domingo, 13 de dezembro de 2020

POEMA DO DOMINGO

 

Dísticos distópicos

(Poema escrito na cama do hospital)

 

Utopia negativa, teu real exorto

Tou ligado tristemente no teu ponto morto

 

Vil megera alucinada, trágico clichê

Eu me ligo apelativo no teu ponto G

 

Rupturas e feridas no meu tosco ego

Tudo isso eu escondo no teu ponto cego        

 

Sou assim remanescente, salvo por um triz

Da incógnita certeza do teu ponto X

 

Com napalm pintei os versos dessa obsessão

Solilíquida mixórdia em ponto de fusão

 

Separando e misturando nosso trigo e joio

Desnivelo atormentado o ponto de apoio

 

Dessa atípica ruína que extingue a vida

Faço com fenecimento o ponto de partida

 

E na undécima hora, acho que blefais

Despistando na cruz os pontos cardeais

 

Deslizas pela sala em vil contemplação

Com pontos hediondos de interrogação

 

Imagem ionizante ostenta o tumoral

Na aflita antessala do ponto final


F. Mozart 


(Ilustração: Agonia, desenho de Bruno Lopes)

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário