sexta-feira, 17 de abril de 2020

A Copa do Mundo é minha



Em 1993, meu time Associação Atlética do Canteiro foi campeão municipal em Mari. O prefeito Manoel Monteiro nos deu este troféu que ainda hoje guardo com desvelo. Foi o acontecimento do século para este velho amador do futebol. Minha Copa do Mundo. Todos os troféus da seleção brasileira não troco por esta humilde taça de um clube amador nas brenhas da Paraíba.

Olhe, meu povo, eu não sou adepto da teoria da competição como motor do mundo. Cooperação no lugar do antagonismo, realçando os valores sociais e humanos. Nisso que eu acredito, batendo de frente com os ideólogos neoliberais, partidários do sistema capitalista competitivo. Trata-se de vencer uma competição consigo mesmo. Quando eu fundei um clube de futebol para animar uma rapaziada pobre da periferia de uma cidadezinha paupérrima, o objetivo não era ganhar partidas ou torneios, mas vencer o preconceito, a desigualdade e a baixa autoestima. Igualmente, quando constituímos uma associação para montar a rádio comunitária da cidade, a meta sempre foi dar voz aos elementos periféricos e não liderar a audiência. Integridade e interação, esse é o nome do jogo. Os grupos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra jamais são convidados a participar e cooperar com a comunidade e são apresentados como baderneiros. Nossa rádio e nosso time acomodavam os “sem terra”. No meu livro “Democracia no ar”, sobre a trajetória da rádio Araçá de Mari, destaco essa participação do MST. Na capa, a foto dos militantes e suas foices guarnecendo o estúdio da rádio popular.

Vitória é consequência e acabamos ganhando o campeonato. Ganhamos respeito e valorização. Não foi uma taça pra esfregar na cara do rival. Gritar “é campeão” e escorrer a lágrima da superação social na taça, é perceber que pode evoluir como cidadão. Foi uma grande conquista para aquele grupo de rapazes. Severino, Bola Cheia, Formiga, Josa, Heleno, Alexandre, Nado Mago, assessor técnico, Jason, técnico e tesoureiro, Cabecinha goleador, Nilcélio e outros futebolistas comunitários em um time diferenciado. Éramos a única associação esportiva da cidade com registro em cartório.

Fiquei com a taça e as camisas do time. Há mais de vinte anos não convivo com essas personagens marienses. Lembrei da taça ao ler notícia de que o boxeador Popó arrecadou 90 mil reais leiloando seu cinturão de campeão mundial para ajudar as vítimas do coronavírus em sua comunidade. Conseguiu ajudar 300 famílias em Salvador. Na luta para ser campeão, Popó acabou levando 38 pontos na cara. Ganhou 500 mil dólares pela conquista do cinturão. “Isso não importa, o que vale é que estou ajudando a matar a fome de muita gente, esse é o valor real”, disse Popó. A taça de campeão do Canteiro está à disposição para quem quiser dar lances. Não vale muita coisa aparentemente. Noi entanto, é referência de respeito, igualdade, solidariedade e batalha por um mundo melhor.

Aproveito que estou jogando hoje no ataque, lembrar que ontem, 16 de abril, a Federação Pernambucana de Futebol declarou o Clube Náutico Capibaribe campeão pernambucano de 2020.  


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