domingo, 20 de outubro de 2019

POEMA DO DOMINGO



Cordel pra Geri

Dalmo Oliveira


Se rolar revolução
O General é Geri
Batalhando na trincheira
De Guarabira a Mari
Flor de cânhamo a bandeira
Curando quem se ferir.

Se rolar revolução
Contra essa fome medonha
Gerimaldo é Capitão
Pra não se passar vergonha
Pajé curando feridas
Com meizinha de maconha.

Se rolar revolução
Eu aposto no “cubano”
Derrubando toda cerca
Pra libertar o humano
No lugar de bala, beijo!
O amor seria o plano.

Se rolar revolução
Clarim toca Melodia
Djavan e Bob Marley
Tinha festa noite e dia
Pedro Osmar, Mercedes Sosa
Um som que não se media.

Se rolar revolução
Sou inimigo do rei
Amigo das raparigas
Liberdade nossa lei
Até poema faria
Para louvar nossa grei.

Se rolar revolução
Na Parahyba do Norte
Chama Geri da Mangueira
Ingerindo água forte
Garrafa é pau da bandeira
Alegria o passaporte.

Se rolar revolução
Beleza de contraponto!
Uma refrega festiva
Gente dormindo no ponto
A tropa toda arriada
Carnavalesco confronto.

Se rolar revolução
Mestre Geri vai ligeiro
Para Alagoa Grande
Acender todo terreiro
Levantar todo quilombo
Como um general festeiro.

Se rolar revolução
Durruti é inspiração
Um anarquista espanhol
“Abaixo cerca e nação”
Mas, num levante maneiro
Paz e amor, crueza não!

Se rolar revolução
Eu me mando abaixadinho
Do Geisel pra Jaguaribe
Beber mé com arrumadinho
Junto ao mestre Pedro Osmar
Celebrar com peixe e vinho.

Se rolar revolução
Comandarei as meninas
Pras bandas da Borborema
Fazer festa nas Boninas
Frevar em Campina Grande
Furar couro das felinas.

Se rolar revolução
Todo dia é feriado
Trabalhar só por prazer
Patronato cancelado
“Mais valia” não valendo
Peão sendo deputado.

Se rolar revolução
Gerimaldo era Ministro
Wilhelm era inspiração
No bar fazendo registro
Sem Supremo Funeral
E sem decreto sinistro.

Se rolar revolução
O regime é anarquista
Bakunin sendo o guru
Metendo o pau em fascista
Toda rádio era pirata
Abaixo a Globo golpista!

Se rolar revolução
Nossa Bíblia é o cordel
O diário oficial
Também no mesmo papel
Carnaval o ano inteiro
Em cada esquina um bordel.

Se rolar revolução
Com o Nordeste independente
A nossa força armada
O cantador de repente
Vaqueiro era o coronel
Gerimaldo era o tenente.

A cartilha, a poesia
Constituição da gente
Ninguém seria obrigado
A ser católico ou crente
Mas teria que ter fé
Na nossa arte candente.

Se rolar revolução
Eliminamos o chefe
Sociedade de classes
Seria apenas um blefe
O velho Geri lidera
Do pintor ao magarefe.

Se rolar revolução
Cuspiremos no Estado
Cagaremos na bandeira
Deixaremos de ser gado
Mulher sendo igual ao homem
Viva o povo libertado!

Se rolar revolução
Gerimaldo é o Papa
Destruindo o monopólio
Da fé, extinguindo mapa
O trabalho coletivo
Vence o sistema no tapa.

Se rolar revolução
A ordem é ser feliz
É o poder popular
Apontando a diretriz
E Gerimaldo na frente
Descascando abacaxis.

Se rolar revolução
Mesmo que seja no sonho
O meu amigo Geri
Transforma o viver bisonho
Numa eterna festança
Com muito prazer, suponho.

Se rolar evolução
É o esforço coletivo
Que dá o tom da pisada
Mantendo o ideal ativo
Anulando hierarquia
E o trabalho passivo.

Se rolar revolução
Gerimaldo toma uma
Talagada de brejeira
Fica leve como pluma
E vomita poesia
Caretice desapruma.

Se rolar revolução
Meu amigo Gerimaldo
Deixar de ser um civil
Vindo buscar o respaldo
No quartel “Bar de Carrá”
Eliminando seu saldo.

Se rolar revolução
Autogestão é a meta
Ordem é coletivizar
Até barba de profeta
Só não pode se meter
Na expressão do poeta.

Se rolar revolução
Transfiro as propriedades
Do rancor e desamor
Para longe das cidades
No inferno dos cristãos
Com suas ansiedades.

Se rolar revolução
Mudo o nome “João Pessoa”
Voltando a ser Parahyba
Porque melhor assim soa
Sem pobreza e violência
Nossa Senhora abençoa.

Se rolar revolução
Será a vez dos plebeus
Já dizia o velho Proudhon
Para os crentes e ateus
Que a podre burguesia
É a maldição de Deus.






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