Eu com a atriz Das Dores Neta no lançamento do livro |
No lançamento do meu livro “Laranja romã” eu falei que a
obra é da Fundação de Cultura de João Pessoa através do Fundo Municipal de
Cultura, que agradeço pela atenção e cortesia de ter escolhido esse meu
livrinho pra constar na seleção do edital público de incentivo à cultura na
cidade de João Pessoa. A obra foi produzida com dinheiro público e eu repasso
de graça, porque já dizia J. Cristo: “De graça recebestes, de graça dai”, tá lá
no evangelho de Mateus.
No dia do lançamento, nesta sexta-feira 27, no Centro
Cultural Ariano Suassuna, em João Pessoa, eu afirmei que o livro é de Jandira
Lucena, que fez a capa e a revisão, parceira em aventuras artísticas há quarenta anos.
Ofereci também o livro à minha vó Joana Cândida da Costa,
dona Joaninha, que hoje é nome de rua na cidade de Itabaiana do Norte. Dona
Joaninha, minha avó, era analfabeta, mas amava folheto de feira. Toda semana ela
mandava comprar um monte de folhetos que eram lidos na calçada, à noite, na Rua
Santa Cecília. Reunia os vizinhos, a família, e a gente viajava nas lindezas da
literatura de cordel. Eu me alfabetizei lendo folheto, foi minha carta de ABC.
Depois que eu aprendi a ler, fui escalado pra ser o ledor dos folhetos. Aí eu
já me animava até em efeitos especiais. Nas histórias de cangaceiro, por
exemplo, eu dava até uns tiros.. pá...pá...pá... e coisa e tal... Virei amante
da literatura de cordel. Eu menino já pensava: um dia vou escrever meus
próprios folhetos. De lá pra cá já escrevi uns 500.
Este livro, que é o terceiro de poemas que botei no
mundo, eu também quero que seja do meu pai Arnaud Costa, já falecido. Meu pai
era operário autodidata, lia muito, escrevia crônicas, poesia. Quando eu tinha
uns 10 anos ele me deu um livro pra ler. Lembro que a primeira palavra do livro
era “merda”. Aí eu fiquei confuso, meio assombrado. “Pai, que danado de livro é
esse que já começa com palavrão?” Aí meu pai disse: “Merda é uma palavra como
outra qualquer, eu sei que você inclusive fala muito essa palavrinha e leva
tapa na boca quando sua mãe ouve”. Ele explicou sobre o poder da palavra escrita.
Escrever te vira ao avesso. E ler mais ainda. Aprendi que o texto tem a força
de revelar nossa miopia ideológica e nossa censuras conceituais. O fato é que
aquele livro de contos, que nem lembro o autor, foi que despertou em mim o
desejo de escrever contos. Passei a vida toda tentando, nunca escrevi um conto
que prestasse. Até produzi em mimeógrafo um livro de contos que depois queimei,
com medo de morrer e alguém encontrar aquele material imprestável e manchar meu
bom nome.
Depois mudei a cabeça pra poesia. Confesso que achei mais
fácil escrever as marolas do meu pensamento pela via poética. É só arrumar umas
palavrinhas, montar com ritmo o jogo de palavras, articular com certa dinâmica
uma pré-ideia que o leitor inteligente vai e completa, e refaz, e até
ultrapassa as articulações mentais do autor.
Nesse lançamento eu tive a satisfação de contar com minha
amiga a atriz Das Dores Neta e seu marido Carlos, que vieram de Itabaiana
especialmente pra cantar a música Pátria Armada, que é um poema meu musicado
pelo meu comparsa de rádio comunitária e poeta Hugo Tavares, paraibano radicado
no Rio Grande do Norte e faleceu há uns cinco anos. Obrigado, Das Dores Neta,
pela consideração, pela lealdade, pela perseverança na arte, com nosso Grupo
Experimental de Teatro de Itabaiana, comemorando 42 anos de fundação.
Parabens poeta..vc merece..
ResponderExcluirUm abraço do seu amigo Dedé Arn