Meu compadre Piaba é um
artista do audiovisual, criativo, com enorme potencial e maior ainda percentual
de irresponsabilidade. Piaba é desses caras que não ligam pra nada. Ele tem
princípios, o que é uma preciosidade. Dá consultoria técnica a todos que pedem,
desde que sejam organizações populares, rádios comunitárias ou movimentos
sociais. Leva a vida na manha e no uísque. Faz freelance e constrói páginas na
internet. É um tremendo gravurista e produz belas camisas. Enfim, vive como
pode. Acredita que, nesse país, o cara
que consegue levar comida pras crianças e manter um nível mínimo e decente de
vida, já é um vitorioso.
Piaba abriu uma microempresa
de estamparias e foi aí que entrou no campo das licitações, que no Brasil
significa golpe. Convidado por um “mala”, Piaba foi informado de que tudo era
legal, que o jogo era só entrar com alguns acordos com outras empresas e todos
ganhariam, na base do revezamento. Não sei como se faz isso, mas era o plano. Piaba
seria um rato que não sambaria à vontade naquele lixo da burocracia fedorenta
como os bueiros abandonados da cidade. “Em que mundo você vive, Piaba? As
coisas funcionam assim. Não terá nada de ilegal, apenas uns acordos entre
amigos”, ponderava o “mala” atravessador dos contratos com a Prefeitura.
Contrato firmando, a
empresa de Piaba recebeu encomenda de fornecimento de camisas no valor de R$ 13
mil. O intermediário levaria dois mil de bonificação pela trinca de ases que
escondia na manga naquele jogo de cartas marcadas. Pedido atendido, encomenda
entregue, o intermediário foi pegar a grana. Não voltou nunca mais.
Óbvio que Piaba
procurou o meliante em sua casa. O vizinho informou que fizeram as malas e
viajaram para Natal, sem promessa de retorno. Foi aí que o micro empresário
soube que concorreu com bandidos, sem chance de ganhar. Prejuízo, revolta,
vontade de cair de porrada em cima do malandro. O inexperiente autogestor
respirou fundo e foi tratar de “correr atrás do prejuízo”. Sim, porque os tolos
não correm atrás de lucro. Inocentes vivem pra reparar perdas e danos.
Essa parada ele me
contou rindo. Ainda hoje sem capital de giro, vive em circunlóquio constante em
torno do caixa vazio. Lição: a infindável luta entre o Bem e o Mal está
personificada entre o trouxa e o ímprobo.
O
Palácio do Planalto contratou uma lancha para o presidente Michel Temer e sua
família usarem na Bahia, durante o carnaval, por R$ 24 mil, sem licitação. A
lancha tem o nome de “Bem me quer”. Se a vida fosse simples como os macetes dos
podres poderes! Na terra brasilis, corrupção não é coisa fortuita. Ao
contrário, é uma razão. É um princípio, um meio e um fim.
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