quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Sonho recorrente



Estação de Pilar. Desenho de Jonatas Rodrigues


Sonhei com trens. Eles aparecem habitualmente, em decadência patética. Velhas estações tomadas pelo mato, trilhos enferrujados, às vezes uma locomotiva cansada puxando vagões antiquados em suas bitolas ultrapassadas. 

Hoje, sonhei com a estação de Pilar. Para além da humilde estaçãozinha, um pátio enorme, grandes armazéns repletos de sacos de açúcar, três locomotivas manobrando, um grupo de militares (acho que da Marinha ou Aeronáutica) agredindo as velhas estruturas da via permanente com tratores enormes, abrindo novos ramais. Sabia que era Pilar apenas pelo nome da cidade em alto relevo no paredão da estação. 

Os sonhadores são geralmente pessoas emotivas, de bom coração e alguma veia poética. Meu irmão Antonio Costta, poeta de Pilar, certamente é um sonhador. Não deve se impressionar com a ferrovia a ponto de sonhar com trens o tempo todo. As imagens que se apresentam durante seu sono de sonhador devem ser ligadas ao mundo eletrônico, já que Antonio é um professor cibernético em tempo integral. Talvez, entretanto, fosse influenciado, como fui, pela leitura do livro do escritor Permínio Asfora, que foi prefeito de Pilar e escreveu o romance Sapé, de 1940, uma obra de forte apelo social e de denúncia. 

De estilo simples, direto, coloquial, o livro de Permínio Asfora analisa o drama de um chefe de estação no interior durante uma greve de ferroviários na antiga Great Western of Brazil Railway, a empresa ferroviária dos ingleses que operou no Brasil no começo do século vinte, chegando a ter uma rede ferroviária de mais de 1.600 quilômetros distribuídos entre Paraíba, Pernambuco e Alagoas. O chefe queria aderir ao movimento grevista, mas pensava no futuro da família, na repressão dos superiores. 

Grande conhecedor da vida cultural de Pilar, acho que nem Antonio Costta sabia da existência desse escritor que foi prefeito de sua cidade. Eu, pelo menos, desconhecia a existência de Permínio Asfora. Seria o caso de se procurar nos sebos os demais livros de Permínio: Noite Grande, Fogo Verde, Vento Norte e O Amigo Lourenço. Merecem constar no acervo da Biblioteca de Pilar.

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