sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

É proibido sonhar




Papo absurdo em mesa de bar. Quatro cavalheiros, quatro jogadores, quatro cabras de peia como diz a canção rasga mortalha de Cátia de França. Quatro homens feitos, nem tão feitos assim, falta cabeça, tutano, juízo pra se firmar na vida como se deve. Sem dizer, nem sonhar besteiras. Os quatro, aliás, orbitando entre os planetas Quimera e Utopia, num mundo de alheamento, fora das motivações mais palpáveis, prosaicas. O que faz esse grupo de amigos um coletivo especial é sua invejável incompetência de realizar o mais simples dos atos para a construção de um projeto, administrar as coisas, construir um mínimo de organização racional. “Vai na raça e na improvisação”, é o lema.

Pois sim. Dois desses cavalheiros são representantes do negativismo puro e simples. Não vai dar certo, não vai dar praia, não chegaremos lá, não vem que não tem, não atravessaremos o Rabicó. Para equilibrar, tem os dois que são da turma dos otimistas absurdos. Acreditam que podem até converter o Papa ao protestantismo, quanto mais fazer a humanidade acreditar e apoiar seus projetos eminentemente fora do contexto comercial, político, social e etcetera e tal. O grande mistério: por que os pessimistas continuam sentando na mesa dos otimistas e fazendo parte dos tais projetos? Uma forma de ter com quem discutir suas teorias sobre como detectar ideias fora do lugar e exageradas. Ou prazer mesmo de ser do contra. Ou amizade pura e simples, que amigo não se encontra mais em qualquer mesa de bar como nos velhos tempos.

Ao som de hits musicais dos anos 70, o pessimista mais velho debocha dos otimistas, pelo simples fato de que já conhece de cor e salteado o nível de irresponsabilidade da turma. O segundo pessimista tenta teorizar sobre as razões pelas quais o projeto irremediavelmente dará com os burros n’água, invocando sua condição de “sabe tudo”, daqueles chatos de galocha que te interrompem para dizer que estás redondamente enganado naquilo que nem começastes direito a explicar. Devidamente mandado para a “tonga da milonga do cabuletê” (antigo palavreado nagô que quer dizer exatamente o que você está imaginando), o segundo pessimista, muito cerimonioso, pede encarecidamente que os demais sentem na manjuba do jerico Barnabé.

Essa briga é antiga e termina com cada um indo cuidar de sua vida, depois de pagar a conta do bar. Antes, o primeiro otimista larga a última provocação: “Deus criou o mundo e descansou. Depois, criou o chato e nunca mais teve sossego”. Sim, e o projeto, motivo da zoada, será devidamente esquecido com os primeiros sintomas da ressaca.

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