Eu à esquerda com Vavá da Luz (de paletó e microfone) |
O
crentezinho ridículo leu meu folheto “A verdadeira história
fescenina das pedras do Ingá” e botou um lenço no nariz. Rasgou
aquela “safadeza” e me condenou automaticamente ao fogo do
inferno dos desavergonhados. Clamou pela volta da censura, com
sintomas de dissimulação aguda, em insidioso processo de histeria
moralista.
Que
o fundamentalismo religioso é uma praga, isso é notório. O plano
é queimar em praça pública as publicações “imorais”, ateias
ou “subversivas”. O nó é quando o próprio Estado assume essa
trajetória retrógrada. Em Pernambuco, o jurídico do Instituto
Nacional de Seguridade Social pediu na Justiça a censura ao folheto
“A lei da Previdência para a aposentadoria”, do cordelista Davi
Teixeira. A Justiça Federal acabou liberando o folheto que incomoda
o INSS. Você não acha super extravagante um Governo que tem medo de
um folheto de cordel?
No
meu caso, o cordel das pedras do Ingá pode ser alvo de uma ação
desse tipo, conforme ameaçou o evangélico. No folheto, as safadezas
abundam, se é que me entendem. Nem chega perto dos manuais clássicos
de sexo, tipo Kamasutra, Tantra e outros livrinhos sobre as crônicas
do amor venéreo da antiguidade. Para o meu censor, no entanto, o
folheto é de tal forma desviador das virtudes morais que o autor
merece queimar nos quintos dos infernos por toda a eternidade e mais
dois feriados santos, na companhia indecorosa do meu compadre Vavá
da Luz, inspirador do tal cordel. Temo até pela integridade física
e espiritual do compadre Tiago Monteiro, editor da pasquinada poética
indecente.
O
crente incendiário das letras fesceninas obrou mal. Vai acabar dando
publicidade ao folheto “A verdadeira história das pedras do Ingá”.
A primeira edição já foi esgotada. O episódio não deixa de ser
um testemunho do nosso tempo. O fato é que eu cismei em ser um
cordelista marginal. Agradecido ao meu futuro acusador nas barras dos
tribunais pela consagração. Aliás, quero ser um cordelista
“maldito”, pretensão também do compadre Walter Mário Goes que
prepara o lançamento do seu primeiro livro, “Opus Impuratus, o
livro proibido de Vavá da Luz”, uma obra prima do “pornosianismo”.
Incorrigível poeta fescenino, Vavá da Luz garante que fará o
lançamento do meu folheto nas Itacoatiaras de Ingá, onde ele é
diretor, supervisor, guia turístico e mentor escatológico. Para
palestra será convidada minha amiga Madame Preciosa, mestra
criativa, irreverente e transgressiva das leis da moralidade boçal.
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