Se eu
morrer em 2018, fica como testamento espiritual esse tipo de depoimento de
companheiros e companheiras a dar uma visão panorâmica de minha existência
nessas quebradas terrenas, palavras que me redimem de muitos equívocos que
cometi vida afora. Meu saldo é bom em favor do meu humanismo guerrilheiro.
Este
compadre que se vê muito garboso na foto acima é o companheiro Luiz Trindade,
de Mari, sujeito convicto de suas ideias libertárias e socialistas, líder do Movimento
dos Trabalhadores Rurais sem Terra na região, hoje dono do seu terreninho,
fruto de uma luta que testemunhei e ajudei a consolidar. Trindade fundou comigo
a Rádio Comunitária Araçá, de Mari. Sob a égide desses valorosos companheiros e
companheiras, sob a proteção e com o total apoio dos camponeses em plena luta
pelos direitos de ocupar e produzir nas terras vazias e improdutivas,
irradiamos nosso sinal com o lema: “ocupar, transmitir e resistir.” No nosso
caso, a ocupação se deu no éter, onde reinam os sinais das rádios comerciais a
serviço das classes dominantes. Queríamos desenvolver a inclusão social e
cidadania plena, assegurando a formação de opinião pública, livre, laica e
pluralista, como deve ser em qualquer regime democrático, e obedecendo o que
diz a Constituição brasileira. Mesmo assim, acusavam-nos de comunistas. Para
garantir esses direitos, passamos para a desobediência civil. E este compadre
foi um soldado resoluto na linha de frente dessas batalhas, no final dos anos
90 em Mari.
No começo
de 2018, recebi a mensagem do compadre Luiz Trindade:
“Fábio
Mozart, desejo de todo coração que tenha um feliz 2018. Lembrando que você faz
parte da história da reforma agrária junto conosco, aqui no município de Mari.
Agradeço primeiramente a Deus, depois a você que me motivou e contribuiu no
avanço das mudanças na vida do homem do campo. Hoje, coletivamente, temos nosso
pedaço de terra. Meu filho mais novo tem curso superior. Você foi a chave
fundamental para essa mudança. Você ensinou, não só a mim, mas a outras pessoas,
a caminhar com suas próprias pernas. Fábio, você tem história e fez história. Continua no coração dos marienses. Um grande abraço e tudo de bom.”
Luiz
Trindade
De Campinas, São Paulo, recebo
torpedo do compadre radialista comunitário Jerry Oliveira:
Fábio Mozart, se você
está na história da reforma agrária de Mari, lembro que isso não é pouca coisa.
Foi nesta região que nasceu José Pedro Teixeira, fundador das Ligas Camponesas
e que foi brutalmente assassinado. Margareth Teixeira, sua companheira
retratada no filme "Cabra Marcado para morrer", relata esta luta.
Poxa amigo, muito bom saber que você é a continuidade desta luta. Viva a
Reforma Agrária, viva as Ligas Camponesas, viva Francisco Julião, viva José
Pedro Teixeira e viva Fabio Mozart, o poeta de luta. Feliz Ano novo.
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