Tem gente que entra na tua órbita gravitacional acidentalmente
e causa estragos. Outros, por mais que tentem, passam ao largo do rebuliço de
tua vida sem grandes notações. Os inimigos devem ser exterminados, conforme
mensagem impressa no DNA dos organismos vivos. Microorganismos, protozoários
insignificantes, ao quebrar a janela de tua segurança, soam o alarme: é chegada
a hora de levantar as barreiras naturais, combater sem trégua os glóbulos
brancos recortados em sol negro, arrepiando o sistema imunológico, posto que os
agressores são quase invisíveis, sem prejuízo de sua capacidade mortificante.
Mudo bruscamente de parágrafo e de intenções. Chega de
listas, ainda que mal suspeite esse pobre cronista ser o próprio alvo de certas
relações de secretos feladaputistas, medrosos de mostrar o focinho, mas
habilidosos em traçar listas com tal vigor acusatório infame, chegando ao ponto
e vírgula de me acusarem de sensacionalista. Sou, mas, quem não é? O título dessa
croniqueta grita para que minha produção leonina não fique ao léu. Uivem em
vão, senhores lobos! O leão desdenha dessas fístulas e segue carregando o pus
do seu pensamento mais claro e paciente, bonachão e pacificador.
O cronista jaguaribense Humberto de Almeida recomenda:
“Seja exigente na escolha dos seus inimigos. Muitos não merecem sua inimizade.”
O poetinha apareceu na minha frente, adocicado e fabricando sonhos artísticos
em gestações mirabolantes. Crucificado pelos aperreios da vida, pediu uma
assistência impreterível. Adiantei quinhentos mangos de um cachê para participação
em projeto teatral para amenizar o antigo ventre das necessidades materiais do
confrade. O poeta pegou a grana e desapareceu. Não posso escrever o nome desse
rapaz no rol dos meus inimigos. Apenas mais um mal-agradecido velhaco. A outra
confreira estava desempregada, passando maus bocados com a família. Arrumei um
emprego, ajudei no que pude. Na primeira oportunidade, a dona me cravou um
punhal nas costas deste corpo muar. Relevo. Friamente espero a combustão dessas
consciências, como o chinês que sentou na margem do rio e esperou passar o
cadáver do seu inimigo, com aquela paciência milenar dos orientais.
Entre meus mil defeitos, tenho este: superestimo as
pessoas que acabo de conhecer. Confio. Queria ser um homem que nunca odeia e
apenas reza. Não passei na prova de santo. Resumindo, a coisa fica assim, como
afirmou Millor Fernandes: os ratos permanecem e o resto (3%) abandona o navio.
Bonitamente falando, as somas e divisões se subtraem e se multiplicam nos
relacionamentos humanos. Enquanto isso, jogo moedas e flores da ponte dos meus
desenganos com os seres ignominiosos.
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