quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Receitas de poesia



“O escritor que escreve às cegas pode ser um iluminado”, acredita o poeta itabaianense André Ricardo Aguiar. E quem lê às cegas, corre o risco de penetrar aleatoriamente no mistério das coisas até, quem sabe, chegar a um grau de maravilhamento a ponto de viajar no pavão misterioso sem maiores perplexidades.
O cordel é uma arte que tem receitas. Sem o domínio de certas regras, não funciona. Como em toda forma artística, tem muita empulhação e produto ordinário por aí, mas, na forma, precisa seguir os preceitos da métrica e rima. É isso que o poeta Sander Lee vai ensinar hoje no Sesc, em João Pessoa, na oficina de cordel. Eu estarei entre os aprendizes, sendo que minha meta é aguçar a capacidade de ver mais o singelo e trivial com algum encantamento. Cuido mais do conteúdo. Com alegria, vou desenvolver oficina sobre literatura de cordel em novembro, no mesmo Sesc, convidado que fui pela direção. Falarei sobre a caça ao tesouro no mundo da poesia popular, como bom leitor cego que acho que sou.
Compadre meu revelou seu grande desejo de fazer parte da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Mas ele não sabe escrever cordel. Eis uma oportunidade de aprender e curtir essa belezinha que é a poesia popular, aparentemente bem organizada e fechada em suas fórmulas, mas com amplas possibilidades espreitando em seus recantos de graça, beleza e inspiração. Não sei se o candidato a poeta vai aparecer na oficina de Sander Lee, mas deveria. Rodeado de bons poetas e melhores leitores, quem sabe não se manifeste na sua cabeça a compreensão das linhas imprecisas da trova e do verso a serviço da originalidade e do belo.



  

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