Olhe em volta de si, repare
bem, você deve estar cometendo uma infração neste momento. Mesmo sem reparar,
estamos violando a lei. O Estado proíbe um zilhão de coisas, algumas agredindo
o bom senso mais elementar. Para estabelecer a famosa ordem social e econômica,
o Estado burocrático produz prodígios legais. Quer um exemplo? Se você comer um
queijinho de leite de cabra fabricado por sua tia, que ela mandou com amor e
carinho da Paraíba para São Paulo, onde você trabalha agora, está cometendo um
ilícito porque, a rigor, o produto mesmo caseiro não pode ser consumido fora do
território paraibano, pois se assim acontecer, desrespeita-se o Regulamento da
Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. São mais de 900
artigos só nessa lei, fora as que a complementam.
Em certa época, fui chamado à
presença de um juiz de direito porque escrevi que a Justiça era lenta. O
magistrado entendeu que eu havia desrespeitado o Poder Judiciário. Exigiu que
me apresentasse na frente dele vestido respeitosamente, com o último botão da
camisa abotoado, as mangas da camisa sem estar arregaçadas, e não podia
encostar na parede nem sentar diante de Sua Majestade, o Juiz. O rançoso e
intransitivo Dr. Data Vênia só trabalhava de terça-feira até quinta-feira na
cidadezinha de Sapé. Fontes fidedignas, indignadas, garantiam ser esse juiz
muito benevolente com os ricos e poderosos. Imensa foi minha vontade de
conjugar o verbo defecar bem na cabeça do meritíssimo e de outros idiotas da
legalidade, feito aquele cabeça de vento que me censurou por produzir um jornal
sem ter diploma de jornalista. Disse ao rapaz: “pode cassar meu mandato de
jornalista e apagar quarenta anos de batente. Aproveite e pegue seu diploma,
faça dele supositório”.
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