Não sou má
pessoa, apenas um pouco apanhado pela idade
|
Em 25 de outubro de 2055, Fábio Mozart
completará cem anos sem maiores flatuosidades, agradecendo à infidelidade da
sorte por ter cumprido tão longo roteiro de vida, perdida.
Intranquilos leitores e sossegadas leitoras da
Toca do Leão, obrigado pelas mensagens de congratulações, especialmente ao meu
compadre Geraldinho que afirmou cavalheirescamente: “Parabéns
compadre Fábio Mozart! Você tá conseguindo ganhar mais uns cabelos prateados! E
espero chegar lá! Muitas felicidades.”
O filho do meu compadre Fernando Melo,
Fernandinho de Itabaiana, também lembrou do aniversário do velho Leão: “Parabéns amigo, que Deus continue
abençoando sua vida. Paz e bem.”
O que é a
natureza, hem? Um dia desses eu era um garoto tão tímido que quando olhava no
espelho, me sentia mal ao ver minha imagem, achando superior ao original. Hoje
sou a mesma merda, só que com uma série de dores pelo corpo e a cara de maracujá
de gaveta.
Mas é
como eu digo: só há um Fábio Mozart no mundo, mesmo porque, dois esse planeta não
comportaria. Antigamente eu comemorava meu aniversário no Bar Mil e Uma Moscas,
hoje o fígado não permite essas festinhas. Exercendo meu mandato de aposentado,
recolho-me à rede velha para ler Rubem Braga, recordando o tempo em que era
rei. Todo bêbado é rei. Eu fui destronado.
Tirando a
modéstia de lado, como falou Noel Rosa, já construí muitos sonhos pela vida
afora, agora tou só virando vento como anjo aposentado. Espero, entretanto,
nunca zerar minhas contas oníricas. Já estou queimando óleo 40, fico só na toca
feito caranguejo velho em maré baixa. Já tenho idade bastante para não
comemorar mais nada.
Encontrei
outro dia meu amigo Chico, que há muito não via. Nessas ocasiões, cada um de nós
tem prazer em constatar que não envelheceu sozinho. Enfim, envelheço sem
remorsos, como um elemento altamente banal, um zé ninguenzinho, como diria Maciel
Caju, mas contente da vida por ter a sorte de escrever para meia dúzia de
amigos essas bobices diárias aqui na Toca. Se bem que Maciel Caju me acusou de
lítero-estelionatário. Não reagi. Ele faz parte do meu mundo simbólico. Não vou
deletá-lo. Mesmo porque, nessa idade em que me encontro, não é bom deletar
amigos velhos, mesmo de qualidade inferior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário