O que é que o
Baiano tem?
Trombone de
ouro, tem...
Adeildo
Vieira
No
Bar do Baiano cabem várias Bahias. Primeiro é preciso entender quantos universos
existem no coração do boêmio, quantas senzalas e quantos palácios se juntam pra
fazer festa nas ebriosas noites intermináveis, quantas casas grandes e quanto
cabarés habitam as mesas onde copos não param cheios e corações vazios se
completam até afogar suas dores com goles e goles de bar tomados no gargalo da
madrugada. Entendido isso, ainda carecemos de definição para o Bar do Baiano. É
que estamos falando de empresa cujo capital são seus clientes e sua renitente
sede de poesia boêmia.
Há
quase dez anos morria o Baiano subitamente, numa segunda-feira em que o dia
transformou-se em madrugada sem estrelas. Partia o fundador da confraria dos
poetas das noites sem fim e ficava a poesia, matéria-prima suficiente pra
manter a vida latejando suas dores e celebrando seus amores. E foi justamente a
poesia que manteve o lume que despretensiosamente o Baiano acendera. Músicos,
poetas, cantores e outros desesperados atiçaram no emblemático bar sucessivos
carnavais e outras tantas festas cotidianas, fruto do frenesi dos corações dos seus
fiéis frequentadores. Ainda que não muito assíduo, procuro me fazer presente,
levando meu quinhão de agonia, meu tantão de alegria e uma sede de vida e
cerveja (às vezes cuba libre, socializando meu desejo de noite).
Numa
sexta-feira dessas eu saía de casa pra cantar duas canções de Adelino Moreira lá
no Baiano. Ansioso pra consumar essa aventura, cheguei até a aproveitar o eco
do banheiro do meu apartamento para numerosos ensaios. É que o músico
acompanhante da noite era nada menos que Elpídio Ferreira empunhando seu violão
de setenta vezes sete cordas. Depois de duas cubas libertinas ganhava eu
coragem para atirar minha voz no sagrado espaço profano da Bahia de todos os
cantos. Parece que deu certo, pois os amigos mais generosos aplaudiram. Os mais
exigentes também...
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