Lata de
sardinha que chamam de coletivo, saindo do bairro Ditador Ernesto Geisel em João
Pessoa
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Maciel
Caju é um senhor da melhor idade, beirando os setenta. Imagine o sacrifício de
alguém sofrendo de artrose, com dificuldade de locomoção, usando o transporte
público. Caju carrega sua ansiedade nos lotados ônibus dos tubarões com a
prostração dos que nada podem, mas com o bom humor de antigo pândego.
“À
primeira vista, o chofer não me dá sessenta anos. Com vinte metros de
distância, o cara fica em dúvida: pára ou joga o carro numa poça de lama para
sujar as calças do velhinho. No outro dia, entrei no ônibus e fui anunciando em
voz alta:
--- Sou
deficiente.
O
motorista olhou para minha desengonçada figura, procurando o defeito físico.
--- Que
deficiência você tem? – perguntou insossamente.
--- Sou
broxa – respondi.
O safado
deu uma risada, todo mundo se abriu. Um velhinho receitou chá de catuaba todo
dia. Algumas senhoras ficaram me olhando e rindo... Uma delas me deu o assento.
Ao lado, uma coroa de seus cinquenta, tentando controlar o riso, em deferência
aos meus cabelos brancos.
Eu disse
bem baixinho pra ela:
--- Fique
triste não. Foi uma mentirinha pra economizar R$ 2,20.” O velho aqui é igual
cebola: a cabeça é branca, mas o talo é verde.
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