Coral Gazzi de Sá
Vozes em harmonia com o tempo e o espaço
Adeildo Vieira
Sempre
gostei de ver gente junta. Gosto de gente junta na vida, assim como no vão
sagrado dos palcos, lugar onde representamos as dores e delícias de viver e
onde apontamos a seta dos nossos olhos para o infinito de nós mesmos, aquele
infinito em busca do qual a humanidade se dirige, mantendo-se em movimento. O
canto coral é um excelente exemplo desse exercício de ajuntamento artístico,
onde se amalgamam vozes em torno de um sentimento coletivo de embalar públicos
ao mesmo tempo em que se embalam os corações de quem canta.
O
movimento orfeônico teve seu apogeu na igreja católica há centenas de anos, mas
naturalmente acompanhou os avanços estéticos da música, desgarrando-se do mundo
sagrado e agregando novos conceitos harmônicos e melódicos com o passar dos
anos. Hoje temos grupos de canto coral especializados em músicas sacras, outros
se dedicam a estéticas diversas, como canções da cultura popular, da cultura
indígena ou mesmo da estética contemporânea, incorporando até outras expressões
artísticas, como é o caso do Coral Gazzi de Sá, da UFPB.
Criado
em 1961, o Coral Universitário passou a se chamar Gazzi de Sá em 1984, em
homenagem ao maestro paraibano que muito contribuiu para o fortalecimento do
canto orfeônico no Brasil. Este coral honra sua longeva história não só pela
grandeza dos maestros que estiveram à sua frente, mas também pela capacidade de
acompanhar as estéticas do seu tempo. Hoje, tendo à frente o maestro Eduardo
Nóbrega, o Coral Gazzi de Sá volta-se para a cena musical paraibana, montando
belos espetáculos que têm o luxo de ganhar movimentos cênicos orquestrados pela
atriz e diretora teatral paraibana Eleonora Montenegro, além dos arranjos do
maestro Tom K.
O
Gazzi de Sá, que tem em seu elenco cantores da comunidade universitária, também
é aberto para as vozes de qualquer cidadão/cidadã que vele pelos sentimentos do
canto. Mas o melhor é ver este coral, que tem o nome de um paraibano que
legitimou a cultura brasileira, abrindo-se para a alma do nosso estado através
do reconhecimento de artistas paraibanos, alguns emergentes, mas todos
honrados. Sem muita modéstia, me incluo entre os compositores contemplados pela
grandeza da alma desse coral. Aliás, não há condecoração maior para um artista
do que ver sua obra respeitada, sobretudo por quem se dá ao respeito e carrega
a dignidade e a competência em riste. Meu troféu está depositado no coração de
cada participante do coral Gazzi de Sá, desde seus produtores artísticos até
cada integrante que deixa saltar dos olhos a alegria de quem exercita o amor
pela expressão do canto.
Não
tenho medo de me tornar suspeito ante ao reconhecimento da importância desse
coral. É que tal reconhecimento não se dá só pela contemplação do meu nome, mas
pelo fato de voltar-se para a cena plural do nosso estado. Falo em nome de
Livardo Alves, Arimatéia de Melo, Hildeberto Barbosa, Lucio Lins e do próprio
Tom K, todos contemplados pela postura de inclusão artística praticada pelo
coral.
Mais
importante que ser longevo é ser digno. O Coral Gazzi de Sá é longevo, é digno
e ainda se faz paradigma com suas ações de respeito à alma pulsante da Paraíba
manifestada pelos seus artistas.
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