sexta-feira, 12 de outubro de 2012

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA




Coral Gazzi de Sá
Vozes em harmonia com o tempo e o espaço

Adeildo Vieira



Sempre gostei de ver gente junta. Gosto de gente junta na vida, assim como no vão sagrado dos palcos, lugar onde representamos as dores e delícias de viver e onde apontamos a seta dos nossos olhos para o infinito de nós mesmos, aquele infinito em busca do qual a humanidade se dirige, mantendo-se em movimento. O canto coral é um excelente exemplo desse exercício de ajuntamento artístico, onde se amalgamam vozes em torno de um sentimento coletivo de embalar públicos ao mesmo tempo em que se embalam os corações de quem canta.
O movimento orfeônico teve seu apogeu na igreja católica há centenas de anos, mas naturalmente acompanhou os avanços estéticos da música, desgarrando-se do mundo sagrado e agregando novos conceitos harmônicos e melódicos com o passar dos anos. Hoje temos grupos de canto coral especializados em músicas sacras, outros se dedicam a estéticas diversas, como canções da cultura popular, da cultura indígena ou mesmo da estética contemporânea, incorporando até outras expressões artísticas, como é o caso do Coral Gazzi de Sá, da UFPB.
Criado em 1961, o Coral Universitário passou a se chamar Gazzi de Sá em 1984, em homenagem ao maestro paraibano que muito contribuiu para o fortalecimento do canto orfeônico no Brasil. Este coral honra sua longeva história não só pela grandeza dos maestros que estiveram à sua frente, mas também pela capacidade de acompanhar as estéticas do seu tempo. Hoje, tendo à frente o maestro Eduardo Nóbrega, o Coral Gazzi de Sá volta-se para a cena musical paraibana, montando belos espetáculos que têm o luxo de ganhar movimentos cênicos orquestrados pela atriz e diretora teatral paraibana Eleonora Montenegro, além dos arranjos do maestro Tom K.
O Gazzi de Sá, que tem em seu elenco cantores da comunidade universitária, também é aberto para as vozes de qualquer cidadão/cidadã que vele pelos sentimentos do canto. Mas o melhor é ver este coral, que tem o nome de um paraibano que legitimou a cultura brasileira, abrindo-se para a alma do nosso estado através do reconhecimento de artistas paraibanos, alguns emergentes, mas todos honrados. Sem muita modéstia, me incluo entre os compositores contemplados pela grandeza da alma desse coral. Aliás, não há condecoração maior para um artista do que ver sua obra respeitada, sobretudo por quem se dá ao respeito e carrega a dignidade e a competência em riste. Meu troféu está depositado no coração de cada participante do coral Gazzi de Sá, desde seus produtores artísticos até cada integrante que deixa saltar dos olhos a alegria de quem exercita o amor pela expressão do canto.
Não tenho medo de me tornar suspeito ante ao reconhecimento da importância desse coral. É que tal reconhecimento não se dá só pela contemplação do meu nome, mas pelo fato de voltar-se para a cena plural do nosso estado. Falo em nome de Livardo Alves, Arimatéia de Melo, Hildeberto Barbosa, Lucio Lins e do próprio Tom K, todos contemplados pela postura de inclusão artística praticada pelo coral.
Mais importante que ser longevo é ser digno. O Coral Gazzi de Sá é longevo, é digno e ainda se faz paradigma com suas ações de respeito à alma pulsante da Paraíba manifestada pelos seus artistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário