Em João Pessoa tem uma escola
estadual que homenageia o ditador Emílio Garrastazu Médici. Aliás, na cidade
toda a situação é vergonhosa nessa área suja de ruas, escolas e bairros que
foram batizados com nomes de ditadores e torturadores. Só no Brasil isso
acontece. Nos países que derrubaram seus regimes de força, como a União
Soviética, as estátuas dos antigos ditadores foram derrubadas, nomes foram
mudados. Na Rússia, mudaram até o nome de uma das maiores cidades do país, Leningrado,
a terra de Lênin.
O Brasil é uma das poucas democracias do mundo que não só deixa tiranos
impunes, como os homenageia em praça pública. Pessoas que enxovalharam a
democracia e a convivência humana deveriam ir direto para o lixo da história e
não virar placa de rua.
Voltando a João Pessoa, aqui é de amargar você escrever seu endereço
informando que mora no bairro Ernesto Geisel, no Castelo Branco, no Valentina
Figueiredo (mãe do João que gostava mais de cheiro de cavalo do que de cheiro
de povo), no Costa e Silva, e por aí
vai. Imagino um estudante perguntando ao professor quem foi Emílio Médici, nome
de sua escola. Que valores você vai passar ao jovem nessa situação?
Costa e Silva é o nome de um conjunto habitacional em minha terra,
Itabaiana. Morei nesse conjunto por muitos anos. Artur da Costa e Silva foi o
segundo governante da ditadura, bronco e ignorante general do Exército cuja
grande obra foi iniciar a fase mais dura e brutal do regime militar. A
vereadora Rosane Almeida está para apresentar um projeto de lei mudando o nome
desse conjunto habitacional para Conjunto Professora Severina Marinho de Melo.
O objetivo do projeto não é apenas banir a memória do general ditador, mas
homenagear uma professora que foi, no seu tempo, uma das maiores mestras da
história da educação no município, e por tabela jogar no esquecimento das
futuras gerações o nome de quem perpetrou crimes contra a democracia e a
cidadania, envergonhando o país diante das nações civilizadas.
No meu livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” eu mostro que o golpe
militar encontrou forte barreira em Itabaiana. O prefeito da época, Hugo Romero
Saraiva, protestou contra os atos de força do regime e foi forçado a renunciar.
As pessoas do seu grupo político foram perseguidas, aí incluídos meu pai Arnaud
Costa e o pai da vereadora Rosane, o inesquecível Nô Almeida. Eles não fizeram
ordem unida diante das atrocidades e arbitrariedades da ditadura.
Manter os nomes desses militares em ruas e monumentos é um escárnio à
democracia. Na Itália não existe rua com o nome do fascista Benito Mussolini.
Na Alemanha, arrancaram as homenagens a Hitler, assim como na Argentina, Chile
e Uruguai o povo jogou fora as placas que homenageavam os responsáveis pelos
que cometeram crimes contra o bem maior de um povo, a democracia. No Paraguai,
trocaram o nome da cidade de Puerto Stroessner, o antigo ditador, para Ciudad
Del Este, logo depois da deposição do tirano, em 1989.
Portanto, se a vereadora Rosane Almeida não se intimidar e realmente
apresentar este projeto, estará prestando um serviço às futuras gerações
itabaianenses que não terão que conviver com a memória viva de gente dessa
qualidade, símbolo de uma época obscura e triste em nosso país.
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