O Samba da minha terra (também) deixa a gente mole!
Adeildo
Vieira
Costumo
dizer que do samba eu não sou fã, sou devoto. Afirmo isso desde que procurei me
batizar nas fontes ancestrais do coração Brasil, lá onde Donga bebeu os
primeiros goles desse código de identidade brasileira. Teoricamente, o samba já
nascia com sede de futuro. Seu primeiro registro já anunciava isso “Pelo Telefone”, título dado à primeira
canção que, em 1918, ainda com gosto de maxixe, inaugurava o gênero musical que
melhor falaria da alma brasileira. O samba é o melhor divã do nosso povo. Por
ele sempre passaram e ainda passam ritos de celebração de nossa felicidade
coletiva, assim como de lamentação dos nossos ais. E não é à toa, aliás, que
são o samba e o futebol os códigos culturais que mais identificam o Brasil.
Ambos azeitam as molas de nossa cintura, mostrando, certamente, a melhor versão
do que chamamos “jeitinho brasileiro”.
Do
Recôncavo Baiano à Marquês de Sapucaí, de Lupcínio a Fundo de Quintal, de
Nelson Cavaquinho a Dona Ivone Lara, de Clementina a Clara Nunes, de Moreira da
Silva a Adoniran, da Velha Guarda à Bossa Nova, todos os milhares de criadores
e milhões de seguidores do samba são, na verdade, resultado uma matriz genética
da cultura brasileira construída pela mistura de dor com felicidade guerreira,
características do sangue negro que passou a irrigar as veias de nosso povo e
banhou as páginas da nossa história. É por isso que nada me dá mais sensação de
ser gente brasileira do que girar até a embriaguez numa roda de samba.
Há
muito que, quase em oração solitária, pedi licença aos mestres do samba pra
fazer minhas canções no gênero. Sinto hoje uma insustentável sensação de
felicidade quando me apercebo em cometimentos sambistas pelos palcos afora.
Modestamente, acho que não tenho dessacralizado o altar onde o Brasil encontrou
sua divindade, onde eu costumo rezar na ponta dos pés. Não fui eu quem inventou
o samba, mas, em lamentação confesso, bem que podia ter sido!
Mas
alegria mesmo foi ver a reverência feita pelo cantor paraibano Paulo Brasil ao
samba e à nossa realidade criativa, quando montou um show exclusivo no gênero a
partir de compositores paraibanos. Sem querer puxar tamborim pra minha batucada
(tinha música minha no repertório), fiquei feliz mesmo foi por ver deliciosas
canções garimpadas de nossa cena cultural que, como eu não canso de dizer, é
plural e capaz de se relacionar com as mais diversas expressões. No caso, bastou
uma boa pesquisa pra o cantor encontrar os compositores que têm a convicção de
que o melhor terreiro para o samba está no coração de cada brasileiro.
O
show “O Samba da Paraíba” foi realizado há pouco mais de um ano e foi resultado
do trabalho final do curso sequencial em música no DEMUS/UFPB, sob a orientação
da professora Daniela Gramani. Não faltou esmero na produção e na direção do
espetáculo, que contou com músicos que bem sabem reverenciar a dignidade do
samba. Paulo Brasil acertou em suas escolhas. O repertório é conceito numa
realidade em que se insiste em não acreditar no poder criativo dos nossos
compositores. O espetáculo foi gravado em DVD
e está à venda pelas mãos do próprio cantor. Quem recomenda o produto é
o irremediável devoto do samba. Eu.
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