sexta-feira, 1 de março de 2013

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA



O Samba da minha terra (também) deixa a gente mole!
Adeildo Vieira

Costumo dizer que do samba eu não sou fã, sou devoto. Afirmo isso desde que procurei me batizar nas fontes ancestrais do coração Brasil, lá onde Donga bebeu os primeiros goles desse código de identidade brasileira. Teoricamente, o samba já nascia com sede de futuro. Seu primeiro registro já anunciava isso “Pelo Telefone”, título dado à primeira canção que, em 1918, ainda com gosto de maxixe, inaugurava o gênero musical que melhor falaria da alma brasileira. O samba é o melhor divã do nosso povo. Por ele sempre passaram e ainda passam ritos de celebração de nossa felicidade coletiva, assim como de lamentação dos nossos ais. E não é à toa, aliás, que são o samba e o futebol os códigos culturais que mais identificam o Brasil. Ambos azeitam as molas de nossa cintura, mostrando, certamente, a melhor versão do que chamamos “jeitinho brasileiro”.
Do Recôncavo Baiano à Marquês de Sapucaí, de Lupcínio a Fundo de Quintal, de Nelson Cavaquinho a Dona Ivone Lara, de Clementina a Clara Nunes, de Moreira da Silva a Adoniran, da Velha Guarda à Bossa Nova, todos os milhares de criadores e milhões de seguidores do samba são, na verdade, resultado uma matriz genética da cultura brasileira construída pela mistura de dor com felicidade guerreira, características do sangue negro que passou a irrigar as veias de nosso povo e banhou as páginas da nossa história. É por isso que nada me dá mais sensação de ser gente brasileira do que girar até a embriaguez numa roda de samba.
Há muito que, quase em oração solitária, pedi licença aos mestres do samba pra fazer minhas canções no gênero. Sinto hoje uma insustentável sensação de felicidade quando me apercebo em cometimentos sambistas pelos palcos afora. Modestamente, acho que não tenho dessacralizado o altar onde o Brasil encontrou sua divindade, onde eu costumo rezar na ponta dos pés. Não fui eu quem inventou o samba, mas, em lamentação confesso, bem que podia ter sido!
Mas alegria mesmo foi ver a reverência feita pelo cantor paraibano Paulo Brasil ao samba e à nossa realidade criativa, quando montou um show exclusivo no gênero a partir de compositores paraibanos. Sem querer puxar tamborim pra minha batucada (tinha música minha no repertório), fiquei feliz mesmo foi por ver deliciosas canções garimpadas de nossa cena cultural que, como eu não canso de dizer, é plural e capaz de se relacionar com as mais diversas expressões. No caso, bastou uma boa pesquisa pra o cantor encontrar os compositores que têm a convicção de que o melhor terreiro para o samba está no coração de cada brasileiro.
O show “O Samba da Paraíba” foi realizado há pouco mais de um ano e foi resultado do trabalho final do curso sequencial em música no DEMUS/UFPB, sob a orientação da professora Daniela Gramani. Não faltou esmero na produção e na direção do espetáculo, que contou com músicos que bem sabem reverenciar a dignidade do samba. Paulo Brasil acertou em suas escolhas. O repertório é conceito numa realidade em que se insiste em não acreditar no poder criativo dos nossos compositores. O espetáculo foi gravado em DVD  e está à venda pelas mãos do próprio cantor. Quem recomenda o produto é o irremediável devoto do samba. Eu.





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