Vila Nova dos bons tempos. Jaime é o quarto, em pé, da esquerda para a direita. |
NEGO JAIME
(1)
No idos de
1960, apareceu em Itabaiana um rapaz alto, bem afeiçoado, funcionário da
Campanha de Erradicação da Malária, chefe dos mata-mosquitos da Sucan. Era o
Jaime, excelente volante que foi levado para treinar no Vila Nova, onde passou
a ser o melhor jogador, técnico real (o “técnico” Levi só distribuía as
camisas) e líder do time.
NEGO JAIME
(2)
Nego
Jaime, como passou a ser carinhosamente conhecido, tinha um problema: não
poderia disputar o campeonato de amadores de Itabaiana porque era profissional
de futebol, com passagem pelo Santos de Tererê (João Pessoa) e pelo Treze de
Campina Grande. Foi então que a Liga Itabaianense de Desportos arrumou um
jeito: o campeonato passou a ser misto, tendo cada clube o direito de inscrever
dois atletas profissionais. Foi o primeiro e único campeonato misto da cidade,
tendo o Vila Nova se sagrado campeão. Nessa época eu era Presidente do Tribunal de
Justiça Desportiva e tive que acatar o casuísmo em nome do bom futebol.
NEGO JAIME
(3)
Por ser
inscrito em dois times profissionais, Nego Jaime foi punido pela Confederação
Brasileira de Futebol. Não poderia jogar profissionalmente por cinco anos.
Segundo informa Valdo do Correio, o próprio presidente da República, Juscelino
Kubitschek, foi quem anistiou o atleta.
KUBITSCHEK
Valdo foi
fazer uma prova para entrar na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Mandaram redigir uma carta ao Presidente. Sem medo de ser reprovado, ele
perguntou ao gerente como se escrevia o nome do Presidente Juscelino
Kubitschek. “Não se preocupe, vai ser bem avaliado pela coragem de perguntar.
Todos os outros candidatos não perguntam e escrevem errado o nome do
Presidente”, disse o funcionário.
A CAFETINA
Os
jogadores do Vila Nova formaram um time de futebol de salão que fez história: o
Tic Tac. Depois dos treinos, a turma levava um litro de rum para tomar debaixo
da ponte do rio Paraíba, acompanhados de umas três ou quatro prostitutas
arrumadas por Nega Buliu, famosa cafetina.
ARARIUM
Ararium
era um forte e caceteiro lateral esquerdo defensor do Vila Nova. Batia até no
vento, conforme se dizia na época. Jogo amistoso entre o Treze e Vila. Miruca,
ponta-direita que jogou no São Paulo, procurou o lateral direito do Vila Nova,
Valdo do Correio, no intervalo: “Valdo, tem um assassino jogando na lateral
esquerda do teu time, vou jogar agora na ponta-esquerda pra ver se escapo”.
PEDINDO
ARREGLO
Neste
mesmo jogo, Valdo marcava o veloz ponteiro Lima, do Treze. No intervalo, Valdo pediu
arreglo: “Lima, não corre tanto assim não porque senão tu me mata!”
O BOATO
Assim era
conhecido um espaço de debate da torcida do União que existia em Itabaiana, em
frente à loja de Pedro Sérvulo, no centro da cidade. Todos os dias reuniam-se
torcedores e atletas para discutir futebol até altas horas da noite. Os mais
assíduos: Israelzinho, Aracílio Araújo, o Munganga, João Cavalcante, Brão
tipógrafo, Arnaud Costa, Edmilson Batista, Índio, Dolfo, Toinho de Tibúrcio e outros
membros da torcida do União. O único do Vila Nova que ainda se arriscava
naquele espaço inimigo era Valdo do Correio.
RIVALIDADE
NA SELEÇÃO
Edmilson
Batista Nascimento e Arnaud Costa comandavam a seleção de Itabaiana em torneio
de seleções promovido pela Federação Paraibana de Futebol. Eu e Edmilson éramos
torcedores do União. Convocamos alguns atletas do rival Vila Nova, os quais
receberam ordem expressa de Zé Tavares, dono do time: “Nenhum atleta do Vila
bate pênalti. Se perder, vão dizer que sabotamos a seleção”.
RIVALIDADE
NA SELEÇÃO (2)
Jogo entre
as seleções de Itabaiana e Santa Rita. Pênalti a favor dos nossos.
Desobedecendo à ordem do chefe, Clécio Falcão se apresentou para bater a
penalidade máxima. Perdeu o pênalti, para desgosto de Zé Tavares: “é um
imbecil!”
PROFECIA
O futebol
de minha terra viveu sua época de ouro enquanto existia a rivalidade entre o
Vila Nova e União. A paixão clubística no interior é uma chave para se entender
a cultura matuta. Em Itabaiana, na véspera de jogo entre os dois times,
prevalecia a guerra de nervos entre torcedores, atletas e dirigentes.
Mobilizava a comunidade inteira. Um dia, Nego Jaime profetizou: “quando o União
se acabar, se acaba o Vila Nova”. Dito e feito: hoje, só restam lembranças
daqueles tempos de glória do nosso futebol amador.
VOZ DE
PRISÃO
Essa quem
me contou foi Dagoberto de Linda. O sargento da Polícia Militar Clemir Claudino
era delegado em Mari. Nas horas vagas, jogava como zagueiro pelo Coritiba
Futebol Clube. Em um jogo duro contra o Botafogo do Cabaré, o centro-avante
aplicou uma canelada no sargento que imediatamente deu voz de prisão ao
atrevido atleta. “Saia de campo e vá direto se apresentar ao carcereiro na
cadeia, e ai de você se não cumprir minha ordem”, determinou o delegado.
(Do livro
“Fatos pitorescos do futebol”, de Arnaud Costa)
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