Pastor matando o capiroto com uma dedada |
Tomei uma
garrafa de cachaça “Vai que é mole”, fui dormir bêbado e sonhei. Tive uma visão
dos três cálices bentos e as onze mil virgens a sete braças de mim. Vestido de
hábito branco, entrei em um casarão antigo fechado com três velas bentas acesas
iluminando o caminho que indicava: “abre aqui uma igreja com a divina
misericórdia, pede a proteção dos orixás, dos anjos guardadores de carro e da
salvadora dos hímens complacentes e vai que é mole”.
Sendo
assim, vou abrir uma igreja, o “Templo das Onze Mil Virgens”, na sede do ponto
de cultura. Seguindo o conselho do velho malandro Ameba que vaticina: “quando a
farinha é pouca, eu quero meu pirão primeiro”. Produzir e difundir cultura nos
deixa a impressão de que estamos malhando em ferro frio e limpando o fiofó com
canjica. Não se pode concorrer com a burrice extravasante dos BBB da vida, as mentalidades
medíocres em geral, com os paredões, funks, forrós bundinhas e outras
alienações afins.
Há mais
de vinte anos, o único cinema de Itabaiana fechou para dar lugar a uma igreja
neopentecostal de resultados. O ponto de cultura vai seguir o mesmo destino.
Serei o pastor exorcista recolhedor de dízimos da minha igreja, com o cuidado
de recomendar aos diabos expulsos dos corpos virgens das minhas devotas que não
baixem nas repartições públicas porque o Diabo velho não frequenta esses
ambientes com medo de ficar desmoralizado.
Na minha
igreja só aceitarei moças virgens, seguindo a recomendação de mestre Ameba, meu
diácono: “quando há cheiro de bode, não se deve amarar cabrita no cercado do vizinho”.
Compadre poeta Maciel Caju duvida muito do meu sucesso de cafetão da desgraça
alheia, que é como ele vê esses pastores “pegue-pague”. Mesmo porque, conforme
esse anticristo, moça virgem hoje em dia é tão difícil quanto achar a nota de 1
real em circulação.
Ameba já
me fez algumas recomendações: “Não dê em cima das virgens antes da lavagem
cerebral. Nada de precipitação. Nunca se deve comer a merenda antes do recreio”.
Madame Preciosa será minha pitonisa,
sempre vigiada para não transformar as sessões de descarrego em um puteiro.
Malandro prevenido dorme de botina. Não posso botar a perder o rótulo de
seriedade de minha igreja por causa das safadezas da Madame. Em rio que tem
piranha é melhor nadar de costas.
Enfim,
estou preparado para ser pastor de minhas ovelhinhas na fase casta. As
virgenzinhas da silva, praticamente uma peça de museu, devidamente feias e bem
limpinhas, cheirosas e balzaquianas, serão consagradas ao velho Leão de Vavá,
um cabra ex-produtor cultural entrando no comércio da produção industrial de
safadeza abençoada pelos deuses da pilantragem. Para ser um clone do pastor
Marcos Feliciano só falta a cara de pau.
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