quarta-feira, 27 de março de 2013

Pelo telefone



Duas coisinhas que eu me lembrei agora. A primeira é sobre o fela da gaita que foi condenado a 12 anos de cadeia por ter atropelado e morto uma Procuradora. Esse camarada também matou uma doméstica, mas esse crime ninguém lembra. Vai ficar impune. O que alimenta a regra geral de que, neste país, a Justiça só funciona para os ricos e poderosos.

Outra coisinha: tentei falar com um camarada pelo celular, mas não consegui. Ele tem três números, e nenhum dos três funciona. Quando não existia celular, a gente discava para a casa do interlocutor e alguém atendia. Se não era o próprio, alguém da família que daria notícias, anotaria o recado e a comunicação era completada. Hoje, o sujeito tem três ou quatro celulares, mas a comunicação ficou mais precária. A rápida expansão piorou o serviço.

Breve conto da vida real: a senhora foi ao psicanalista tratar de suas neuras e lá encontrou uma moça em pior estado de nervos. Trocaram confidências sobre os achaques comuns, ficaram amigas, uma reconfortando a outra. A moça ligava sempre para a senhora, procurando apoio, lutando para se libertar do círculo maior da solidão. Família ausente, carência muita. Começou a ficar importuna. Ligava a toda hora do dia e da noite para pedir conselhos, implorar uma visita. A senhora não suportou o incômodo e desligou o telefone fixo. Sem celular e, agora, sem o telefone residencial, a senhora fica pelos cantos das paredes, triste, pensando na mocinha que precisa de ajuda, sem forças para auxiliar aquela pobre criatura e tendo que se isolar para não agravar mais seu já precário estado de saúde.

O labirinto da solidão enredou aquelas duas criaturas com os fios do telefone. Um problema se impõe: como reativar o telefone, como restabelecer a normalidade comunicacional onde se instalou mais uma neurose?   




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