Duas
coisinhas que eu me lembrei agora. A primeira é sobre o fela da gaita que foi
condenado a 12 anos de cadeia por ter atropelado e morto uma Procuradora. Esse
camarada também matou uma doméstica, mas esse crime ninguém lembra. Vai ficar
impune. O que alimenta a regra geral de que, neste país, a Justiça só funciona
para os ricos e poderosos.
Outra
coisinha: tentei falar com um camarada pelo celular, mas não consegui. Ele tem
três números, e nenhum dos três funciona. Quando não existia celular, a gente
discava para a casa do interlocutor e alguém atendia. Se não era o próprio,
alguém da família que daria notícias, anotaria o recado e a comunicação era
completada. Hoje, o sujeito tem três ou quatro celulares, mas a comunicação
ficou mais precária. A rápida expansão piorou o serviço.
Breve
conto da vida real: a senhora foi ao psicanalista tratar de suas neuras e lá
encontrou uma moça em pior estado de nervos. Trocaram confidências sobre os
achaques comuns, ficaram amigas, uma reconfortando a outra. A moça ligava
sempre para a senhora, procurando apoio, lutando para se libertar do círculo
maior da solidão. Família ausente, carência muita. Começou a ficar importuna.
Ligava a toda hora do dia e da noite para pedir conselhos, implorar uma visita.
A senhora não suportou o incômodo e desligou o telefone fixo. Sem celular e,
agora, sem o telefone residencial, a senhora fica pelos cantos das paredes,
triste, pensando na mocinha que precisa de ajuda, sem forças para auxiliar
aquela pobre criatura e tendo que se isolar para não agravar mais seu já
precário estado de saúde.
O
labirinto da solidão enredou aquelas duas criaturas com os fios do telefone. Um
problema se impõe: como reativar o telefone, como restabelecer a normalidade
comunicacional onde se instalou mais uma neurose?
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