Sósthenes e família: esposa Maria Helena e sua filha, Mariama |
Estranhamente, esse advogado
se sente mais leve do que os seus 60 quilos. O mago Sósthenes Costa, meu irmão,
foi indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil, secção Paraíba, para compor a
Comissão de Direitos Humanos com o objetivo de investigar crimes cometidos
contra os advogados durante a ditadura militar.
Sósthenes Costa é advogado
menos por escolha e mais por destino. O advogado da família seria eu, escolhido
pelo meu pai desde pequenininho. O velho rábula Arnaud Costa cismou que eu
tinha jeito para advogado. “Será o advogado da família”, garantia ele. Para
sacramentar sua escolha, comprou um vistoso anel de Advogado e guardou para
minha formatura. Eu frequentava o Colégio Técnico Agrícola Vidal de Negreiros,
em Bananeiras, também menos por vocação do que por castigo. Meu comportamento
inadequado e as más companhias me levaram a esta escola como punição, na qual
passei apenas seis meses. Fui expulso a bem da disciplina, mas isso é outra
história.
Meu pai continuava com sua
certeza de que, ao fim e ao cabo, eu passaria no vestibular de Direito e começaria
uma carreira de causídico. Não sou de decepcionar ninguém, mas dessa vez fui um
fracasso e tive um comportamento deplorável diante do meu esperançoso pai:
vendi o anel do futuro advogado e gastei a grana com cachaça nos botecos da rua
Treze de Maio, o famoso Carretel. Para completar, abandonei a escola e fui
andar no mundo, sacoleiro, aventureiro sem eira nem beira.
Por essas vias, chegou a
missão do meu irmão mais velho de cumprir o desejo do nosso pai. Menino bem
comportado e inteligente, estudou, formou-se em Direito e hoje é um bom
advogado.
Mas eu dizia no começo desse
papo que ele se sente mais leve. É que despertou sua vocação política muito
cedo, e jovem foi vereador em Itabaiana, com apenas 18 anos. Apaixonado pelas
causas sociais, foi fundador do Partido dos Trabalhadores, candidato a
deputado. Enfronhou-se e tomou gosto pelas lutas políticas, até que encontrou
outro barato na fé cristã. Mas é como se diz: a gente que luta por ideais
humanistas jamais esquece a seara. Hoje ele está nesta Comissão que vai buscar
justiça para quem foi espezinhado pelas botas do autoritarismo. Para Sósthenes
é como voltar às velhas batalhas, e isso nos deixa mais leves e cheios de vida.
O mago Sósthenes não é,
entretanto, um lutador, e sim um homem justo. Já ensina o provérbio japonês:
“Lutador é aquele que briga só pelo prazer de brigar;
o homem justo é aquele que briga porque é necessário".
o homem justo é aquele que briga porque é necessário".
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