sexta-feira, 22 de março de 2013

De volta à luta


Sósthenes e família: esposa Maria Helena e sua filha, Mariama


Estranhamente, esse advogado se sente mais leve do que os seus 60 quilos. O mago Sósthenes Costa, meu irmão, foi indicado pela Ordem dos Advogados do Brasil, secção Paraíba, para compor a Comissão de Direitos Humanos com o objetivo de investigar crimes cometidos contra os advogados durante a ditadura militar.

Sósthenes Costa é advogado menos por escolha e mais por destino. O advogado da família seria eu, escolhido pelo meu pai desde pequenininho. O velho rábula Arnaud Costa cismou que eu tinha jeito para advogado. “Será o advogado da família”, garantia ele. Para sacramentar sua escolha, comprou um vistoso anel de Advogado e guardou para minha formatura. Eu frequentava o Colégio Técnico Agrícola Vidal de Negreiros, em Bananeiras, também menos por vocação do que por castigo. Meu comportamento inadequado e as más companhias me levaram a esta escola como punição, na qual passei apenas seis meses. Fui expulso a bem da disciplina, mas isso é outra história.

Meu pai continuava com sua certeza de que, ao fim e ao cabo, eu passaria no vestibular de Direito e começaria uma carreira de causídico. Não sou de decepcionar ninguém, mas dessa vez fui um fracasso e tive um comportamento deplorável diante do meu esperançoso pai: vendi o anel do futuro advogado e gastei a grana com cachaça nos botecos da rua Treze de Maio, o famoso Carretel. Para completar, abandonei a escola e fui andar no mundo, sacoleiro, aventureiro sem eira nem beira.

Por essas vias, chegou a missão do meu irmão mais velho de cumprir o desejo do nosso pai. Menino bem comportado e inteligente, estudou, formou-se em Direito e hoje é um bom advogado.

Mas eu dizia no começo desse papo que ele se sente mais leve. É que despertou sua vocação política muito cedo, e jovem foi vereador em Itabaiana, com apenas 18 anos. Apaixonado pelas causas sociais, foi fundador do Partido dos Trabalhadores, candidato a deputado. Enfronhou-se e tomou gosto pelas lutas políticas, até que encontrou outro barato na fé cristã. Mas é como se diz: a gente que luta por ideais humanistas jamais esquece a seara. Hoje ele está nesta Comissão que vai buscar justiça para quem foi espezinhado pelas botas do autoritarismo. Para Sósthenes é como voltar às velhas batalhas, e isso nos deixa mais leves e cheios de vida.

O mago Sósthenes não é, entretanto, um lutador, e sim um homem justo. Já ensina o provérbio japonês: “Lutador é aquele que briga só pelo prazer de brigar;
o homem justo é aquele que briga porque é necessário".

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