Nas minhas andanças semanais
por Itabaiana, satisfação em encontrar velhos amigos de minha geração para o
inventário do saudosismo comum aos que já dobram o cabo da boa esperança.
Cercado pelo respeito e lealdade dos amigos e o reconhecimento das novas
gerações, assim devia estar o cara que fez história, aquele que, bem ou mal,
contribuiu para sua comunidade. Não é o que acontece, normalmente. Essas coisas
são assim mesmo. Quem passou, mesmo que tenha vestido as melhores roupas da
cidadania, da arte e do esporte, acaba sempre no baú do esquecimento.
É dessa forma que vejo a
figura do meu compadre Edilson Andrade, sete vezes vereador em sete
legislaturas consecutivas, ex-prefeito, desportista e, de uma forma ou de
outra, merecedor dos melhores encômios. Hoje, beirando os oitenta, deixou a
política, vive de recordar as paixões: o futebol e os embates partidários.
Quando me encontra, pede para publicar na minha Toca seus feitos como político
e desportista, junto com a grande injustiça que considera a retirada de placa
com seu nome na Câmara Municipal. “Fui Presidente da câmara muitas vezes, ali
fiz importantes reformas respeitando aquele prédio histórico, e hoje alguém se
acha no direito de esconder a placa com meu nome e as fotos dos
ex-presidentes”, queixa-se Edilson.
O ex-vereador, ex-prefeito,
ex-quase tudo na sua cidadezinha lembra que foi garoto pobre, arte difícil de
se executar, eu que o diga. Fui moleque sem eira nem beira na beira do rio,
jogando bola nas areias quentes do Paraíba. Edilson lembra que costumava entrar
pelo buraco da cerca de avelós do Estádio Severino Paulino para ver os jogos
nas tardes de domingo da velha Itabaiana. Quando foi Presidente da Liga
Itabaianense de Desportos, mandou construir muros no campo de futebol, mas
permitia que a molecada entrasse de graça após os primeiros trinta minutos de
jogo. “Eles faziam fila no portão, eu mandava entrar porque lembrava do meu
tempo de guri quando não tinha dinheiro para o ingresso”, disse Edilson.
Com a mesma determinação, fez
campeonatos memoráveis, foi treinador do Conceição Futebol Clube e ficou cinco
anos sem perder uma única partida. Pouco importa as incoerências e os defeitos
do velho político Edilson Andrade. O homem agora é História, jogou o jogo,
cumpriu suas obrigações cívicas e as malandragens próprias da política
tupiniquim. Retiram seu nome das placas de obras públicas e colocam homenagens
a outras personagens com os mesmos perfis dos políticos tradicionais. O tempo
voa e chega o dia em que a gente tem que prestar contas, se não aos
injustiçados, mas à própria História.
Edilson Andrade vai prefaciar
o livro do meu pai, Arnaud Costa, que fala justamente do futebol de Itabaiana.
Ele e meu velho trocam passes na grande área da memória, abrindo espaço para o
registro do que foi, tentando ao mesmo tempo driblar o próprio tempo, veloz e
assustador nessas alturas do campeonato.
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