sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Trocando passe na grande área da memória


Marcos Veloso, Fábio Mozart, George Mendonça e Edilson Andrade esperando que o garçom nos sirva um sorvete de saudosismo na Sorveteria de Débora, o point da intelectualidade itabaianense. (Foto: Débora Lins)



Nas minhas andanças semanais por Itabaiana, satisfação em encontrar velhos amigos de minha geração para o inventário do saudosismo comum aos que já dobram o cabo da boa esperança. Cercado pelo respeito e lealdade dos amigos e o reconhecimento das novas gerações, assim devia estar o cara que fez história, aquele que, bem ou mal, contribuiu para sua comunidade. Não é o que acontece, normalmente. Essas coisas são assim mesmo. Quem passou, mesmo que tenha vestido as melhores roupas da cidadania, da arte e do esporte, acaba sempre no baú do esquecimento.

É dessa forma que vejo a figura do meu compadre Edilson Andrade, sete vezes vereador em sete legislaturas consecutivas, ex-prefeito, desportista e, de uma forma ou de outra, merecedor dos melhores encômios. Hoje, beirando os oitenta, deixou a política, vive de recordar as paixões: o futebol e os embates partidários. Quando me encontra, pede para publicar na minha Toca seus feitos como político e desportista, junto com a grande injustiça que considera a retirada de placa com seu nome na Câmara Municipal. “Fui Presidente da câmara muitas vezes, ali fiz importantes reformas respeitando aquele prédio histórico, e hoje alguém se acha no direito de esconder a placa com meu nome e as fotos dos ex-presidentes”, queixa-se Edilson.

O ex-vereador, ex-prefeito, ex-quase tudo na sua cidadezinha lembra que foi garoto pobre, arte difícil de se executar, eu que o diga. Fui moleque sem eira nem beira na beira do rio, jogando bola nas areias quentes do Paraíba. Edilson lembra que costumava entrar pelo buraco da cerca de avelós do Estádio Severino Paulino para ver os jogos nas tardes de domingo da velha Itabaiana. Quando foi Presidente da Liga Itabaianense de Desportos, mandou construir muros no campo de futebol, mas permitia que a molecada entrasse de graça após os primeiros trinta minutos de jogo. “Eles faziam fila no portão, eu mandava entrar porque lembrava do meu tempo de guri quando não tinha dinheiro para o ingresso”, disse Edilson.

Com a mesma determinação, fez campeonatos memoráveis, foi treinador do Conceição Futebol Clube e ficou cinco anos sem perder uma única partida. Pouco importa as incoerências e os defeitos do velho político Edilson Andrade. O homem agora é História, jogou o jogo, cumpriu suas obrigações cívicas e as malandragens próprias da política tupiniquim. Retiram seu nome das placas de obras públicas e colocam homenagens a outras personagens com os mesmos perfis dos políticos tradicionais. O tempo voa e chega o dia em que a gente tem que prestar contas, se não aos injustiçados, mas à própria História. 

Edilson Andrade vai prefaciar o livro do meu pai, Arnaud Costa, que fala justamente do futebol de Itabaiana. Ele e meu velho trocam passes na grande área da memória, abrindo espaço para o registro do que foi, tentando ao mesmo tempo driblar o próprio tempo, veloz e assustador nessas alturas do campeonato.

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