quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

COLUNA DE ADEILDO VIEIRA





João Pessoa, mostre os documentos!
Que tal a identidade?

Adeildo Vieira



Cheguei na praia cedo pra ver o show de Totonho e atestar a  superprodução do grupo Roupa Nova, que viria a seguir. Felizmente era cedo o suficiente pra ver um grupo de cavalo marinho infantil se preparando para apresentação. Emocionante ver aquelas crianças, que traziam no coração e nos olhos a força da história de João do Boi, mestre da cultura popular falecido há um ano. Nas super potentes caixas de som rolavam canções da banda britânica Dire Straits.  Depois de Totonho, tivemos que ouvir quase uma hora de música americana pra DJs. Enfim, vinha a apoteose do Roupa Nova, que não envelhece nas mídias globais e congêneres.
Não quero discutir o mérito da música executada na espera para os shows de artistas locais, até porque sou muito fã do Dire Straits. O que questiono é o porquê de não tocarem músicas da cena paraibana nos preâmbulos dos espetáculos onde o grande público está presente. Questiono, sobretudo, porque se trata de eventos públicos promovidos por quem promove cultura na cidade, e que, por isso mesmo, deveria aproveitar todos os espaços pra formar público em favor dos artistas locais. Até hoje essa oportunidade sempre foi desperdiçada, com raras e surpreendentes exceções.
Mas isso é sintomático! Se o bloco Muriçocas do Miramar, que arrasta algumas centenas de milhares de pessoas não consegue ter uma identidade, o que dizer do resto? Sou a favor da diversidade cultural, até porque é assim que concebo meu trabalho e reconheço a pluralidade que caracteriza a cena paraibana. Mas bem que o Muriçocas poderia ter consagrado o Esculamba, estética codificada por Fuba, como uma digital musical do bloco. Esta proposta estética pro pré-carnaval de João Pessoa (lembrando que não temos carnaval) tem origem em ritmos nordestinos sincretizados e caracterizados pelos arranjos da genialidade do guitarrista paraibano Alex Madureira. Mas o Muriçocas continua manifestando uma miscelânea de ritmos que, na verdade, atendem exclusivamente aos interesses do mercado global. Por que o maior bloco de arrasto de carnavais prévios do planeta não consegue lançar um CD anual que fortaleça seu projeto de identidade e construa um mercado em torno de si próprio? É porque não há projeto de identidade pra ele.
Na verdade, ninguém assume um projeto de identidade pra nossa cidade. Os blocos do Folia de Rua, que têm seus hinos maravilhosos, são arrastados por frevos de Recife, Olinda e Salvador. E quando não é frevo, são músicas do mercado carnavalesco da Bahia. As tentativas de sustentação de uma identidade junina  em nossa cidade estão prestes a sucumbir às pressões do mercado cearense daquilo que lamentavelmente  chamam de  forró.Tudo cai aos pés de mercados que alimentam outras praças, como se não fosse possível criar um mercado a partir de produtos extraídos do umbigo de nossa cidade. Falta autoestima como manifestação de inteligência capaz de criar emprego, renda, impostos, público, apoios da iniciativa privada e muito, mas muito orgulho de ser paraibano. Sem bairrismo, mas bem que podemos exportar o sol, a praia, o som, as cores, as formas e o sorriso que mora dentro da gente. A meu ver, esse é o maior capital que temos.
E salve a cultura popular de nosso estado! Ninguém entendeu ainda que o maior projeto de felicidade genuíno que temos está na alma dos brincantes. Não entender isso é correr atrás de um trio elétrico sem freios, ladeira abaixo. Só vai quem já morreu e não sabe.

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