Avancemos na prospecção do pré-sol
Adeildo Vieira
O
ano novo nasce primeiro o oriente. Fogos e champagnes são pioneiros em seus
estouros, anunciando uma nova jornada de dias, geralmente recheados de
esperança no amanhã. Mas somos nós, pessoenses, que anunciamos a boa nova nas
Américas, recebendo, em primeira mão, o abraço dos raios de sol que há pouco
promoviam o primeiro amanhecer de um novo ano na África. Sim, nós somos a porta
do sol, como afirma o compositor Fuba em sua famosa canção. Pra muita gente
isso pode não ter significado algum, mas pra mim, entretanto, há muito a se
explorar dessa ensolarada peculiaridade.
Nós
somos o “império do sol nascente no ocidente”, um lugar onde o astro-rei faz a
festa, aquecendo mentes e corações, distribuindo o calor que mantém mornas as nossas
águas e que nos chamam pra rua, pras rodas de samba, pras feijoadas, pras
noites de pouca roupa, pras programações fora de casa. O sol é o anfitrião da
alegria nesta cidade onde o verão coincide com as férias de fim de ano e se
estende até bem depois do carnaval.
Mas,
no momento em que o Brasil inteiro se digladia na luta pelo loteamento dos
royalties do pré-sal, precisamos entender a grandeza de sermos os donos do
pré-sol. O dito progresso caminha realmente na contramão dos valores naturais,
retirando, literalmente, o ar dos nossos pulmões para oxigenar a economia. A auto-suficiência
no petróleo e sua consequente emissão
interminável de poluentes é vista como redenção econômica para o nosso país. E
é isso que temos que comemorar? Nós,
entretanto, nos regozijamos de ter o sol e os ventos como parceiros de nossa
existência calorosa. São eles capazes de gerar a energia limpa do progresso,
mas também de produzir a energia de aglutinar pessoas em seu desejo de viver
feliz. A cultura da alegria, orquestrada pelo rei, e que está emanada nas
expressões artísticas e culturais da nossa cidade, é o nosso melhor filão
econômico, limpo e renovável.
Além
de ter o sol como protagonista, a Ponta do Cabo Branco é uma fronteira ávida de
ponte que se estenda à África. Claro que não falo de pontes físicas, mas de
intenções políticas que nos aproximem do continente negro pelas vias
acadêmicas, culturais, turísticas, comerciais. João Pessoa é a cidade mais
próxima de Dakar, capital do Senegal. Trata-se da porção mais curta de oceano
entre Brasil e África. Mas nenhum projeto conspira em favor dessa aproximação,
senão algumas ações individuais de quem acredita na importância de intercâmbios
entre países.
Bom,
o que quero mesmo é dizer que há muito o que explorar do nosso ponto mais
oriental da Américas. Trata-se de um local simbólico que, ao mesmo tempo em que
abraça os primeiros raios de sol do lado de cá do mundo, também se lança no
desejo de beijar o lado de lá do Atlântico, tudo isso na certeza de que não há
distâncias que separam a humanidade quando se acredita na irmandade no coração
das pessoas. Seria a Ponta de Cabo Branco o nosso ponto geodésico da esperança
de paz. O nosso pré-sol é ainda uma riqueza mal prospectada.
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