quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

COLUNA DE ADEILDO VEIRA



Avancemos na prospecção do pré-sol

Adeildo Vieira

O ano novo nasce primeiro o oriente. Fogos e champagnes são pioneiros em seus estouros, anunciando uma nova jornada de dias, geralmente recheados de esperança no amanhã. Mas somos nós, pessoenses, que anunciamos a boa nova nas Américas, recebendo, em primeira mão, o abraço dos raios de sol que há pouco promoviam o primeiro amanhecer de um novo ano na África. Sim, nós somos a porta do sol, como afirma o compositor Fuba em sua famosa canção. Pra muita gente isso pode não ter significado algum, mas pra mim, entretanto, há muito a se explorar dessa ensolarada peculiaridade.

Nós somos o “império do sol nascente no ocidente”, um lugar onde o astro-rei faz a festa, aquecendo mentes e corações, distribuindo o calor que mantém mornas as nossas águas e que nos chamam pra rua, pras rodas de samba, pras feijoadas, pras noites de pouca roupa, pras programações fora de casa. O sol é o anfitrião da alegria nesta cidade onde o verão coincide com as férias de fim de ano e se estende até bem depois do carnaval. 

Mas, no momento em que o Brasil inteiro se digladia na luta pelo loteamento dos royalties do pré-sal, precisamos entender a grandeza de sermos os donos do pré-sol. O dito progresso caminha realmente na contramão dos valores naturais, retirando, literalmente, o ar dos nossos pulmões para oxigenar a economia. A auto-suficiência  no petróleo e sua consequente emissão interminável de poluentes é vista como redenção econômica para o nosso país. E é isso que temos que comemorar?  Nós, entretanto, nos regozijamos de ter o sol e os ventos como parceiros de nossa existência calorosa. São eles capazes de gerar a energia limpa do progresso, mas também de produzir a energia de aglutinar pessoas em seu desejo de viver feliz. A cultura da alegria, orquestrada pelo rei, e que está emanada nas expressões artísticas e culturais da nossa cidade, é o nosso melhor filão econômico, limpo e renovável.

Além de ter o sol como protagonista, a Ponta do Cabo Branco é uma fronteira ávida de ponte que se estenda à África. Claro que não falo de pontes físicas, mas de intenções políticas que nos aproximem do continente negro pelas vias acadêmicas, culturais, turísticas, comerciais. João Pessoa é a cidade mais próxima de Dakar, capital do Senegal. Trata-se da porção mais curta de oceano entre Brasil e África. Mas nenhum projeto conspira em favor dessa aproximação, senão algumas ações individuais de quem acredita na importância de intercâmbios entre países.

Bom, o que quero mesmo é dizer que há muito o que explorar do nosso ponto mais oriental da Américas. Trata-se de um local simbólico que, ao mesmo tempo em que abraça os primeiros raios de sol do lado de cá do mundo, também se lança no desejo de beijar o lado de lá do Atlântico, tudo isso na certeza de que não há distâncias que separam a humanidade quando se acredita na irmandade no coração das pessoas. Seria a Ponta de Cabo Branco o nosso ponto geodésico da esperança de paz. O nosso pré-sol é ainda uma riqueza mal prospectada.

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