Meu PC deu pau e estou sem
ferramentas para atualizar meus blogs, pedindo desculpas aos eventuais leitores
pela escassez de conteúdo.
Aproveitando aqui uma “voltinha”
em computador alheio para comentar/informar duas coisinhas: ontem, lembrei do
meu passado em Itabaiana, quando tinha 19 anos e fazia parte de uma geração que
lutou contra a ditadura. Foi quando soube da morte do padre Antonio Kemps. Esse
vigário estrangeiro guardava os valores democráticos de sua terra natal e aqui
dedicou-se a dar retaguarda para os que brigavam contra o regime de força
comandado pelos militares.
Foi Antonio Kemps quem
assumiu a responsabilidade de autorizar a apresentação da “ópera do povo”
Cantata para Alagamar, uma obra musical de W. J. Solha que denunciava os crimes
dos militares contra o povo camponês em terras de Salgado de São Félix. O
espetáculo foi realizado na igreja matriz de Itabaiana, cercada de policiais e
agentes do Exército, SNI e o escambau, porque achavam que uma obra de arte
seria muito perigosa para o sistema. Padre Kemps esteve na linha de frente,
junto com o bispo D. José Maria Pires, na briga pelas liberdades democráticas e
pelos direitos do povo. Levou metralhadora nos peitos, mas nunca recuou.
Lembro que, naquela época,
eu era metido a pintor. O padre Kemps me convocou para pintar dois grandes
painéis sobre a escravidão e a luta dos trabalhadores do campo. Pintei com a
ajuda do meu compadre David do Monte, que se dizia “materialista científico e
dialético”. No final, o padre Kemps negou até o resto da tinta. Compadre Davi,
com raiva, desapropriou alguns livros da rica biblioteca do padre, na Casa
Paroquial. Foi o único padre que autorizou nosso grupo de teatro ensaiar na
Igreja. Se bem que, depois, desautorizou porque uns espíritos de porco
começaram a enfiar piolas de cigarros nas bocas dos santos, e esse sacrilégio o
padre não admitiu.
Padre Antonio Kemps esteve
fisicamente longe de Itabaiana durante todo esse tempo, mas nunca foi esquecido
pelos que conviveram com ele. Era devoto de Nossa Senhora de Medugorje, a quem
pedia bênçãos para sua Itabaiana, onde ajudou a construir uma nova história.
Por ser estrangeira, talvez a santa não tenha tido muito interesse nos pedidos
do nosso Antonio Kemps, por isso vivemos essa realidade que todo mundo conhece.
Vá em paz, meu bom padre Kemps! Obrigado por ter feito parte de nossas vidas de
forma tão exemplar.
Outra coisinha: recebi
mensagem de Monica Rector: “Li o seu artigo sobre o pintor Otto Cavalcanti e gostaria de
saber qual o email, endereço ou telefone, ou como poderia entrar em contato com
ele. Obrigada, Monica Rector.”
Essa
Monica Rector é professora brasileira aposentada
da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Atualmente leciona Estudos Luso-brasileiros na University of North Carolina, em
Chapel Hill, EUA. Tem publicado, nacional e internacionalmente, nas áreas de linguística,
semiótica, comunicação não-verbal e atualmente Literatura Portuguesa. Está
fazendo pesquisa sobre a arte pictórica de Otto Cavalcanti, pintor itabaianense
que hoje mora em Fortaleza, Ceará, segundo as últimas notícias.
Portanto, peço ao Otto e/ou
sua esposa que entre em contato com a professora Monica Rector pelo e-mail: prector@mindspring.com
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