Erasmo Souto
O
padre Nezinho era o espelho do virtuosismo. Falava baixinho, sempre
aconselhando para o bem. Sua vida era de casa para a igreja. Seu nome real era
Stamp Crowell, nascera na Suécia e foi parar em Itabaiana, onde morava há mais
de vinte anos.
Padre
Nezinho tinha um pequeno defeito. Diariamente, às seis horas da manhã, tomava
uma cachacinha antes do banho, na venda de Severino Carlos. Emborcava dois
dedinhos de cana e saía para suas atividades de pároco.
Certo
domingo amanheceu chovendo, um frio danado. Padre Nezinho completava 25 anos de
sacerdócio e haveria missa especial na igreja, para comemorar. Para espanto dos presentes na venda de
Severino Carlos, padre Nezinho engoliu quase uma meiota de cana. Chegou na
igreja com a língua um tanto grossa, caindo aquela baba. No Altar-Mor, pegou o
microfone e começou o sermão:
---
Caríssimos fiéis (hic!), bom dia. Hoje completo vinte e cinco anos de
sacerdócio e por isso resolvi fazer um sermão especial.
---
Esse negócio vai dar bode – cochichou Herondina ao ouvido de Eudócia, ambas
baratas de igreja.
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Vou falar (hic!) de Sodoma e Gomorra.
Bebé
Chorão, o sacristão, passou a segurar o padre por trás, para evitar que ele
caísse. Padre Nezinho continuou:
---
Aquilo era uma terra de cabra safado e
mulher gaieira! Uma zona, pra ser mais claro. A mãe de um coisava com o pai de
outro!
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O padre endoidou! --- gritou Maria da Garrafa, a maior quebradeira de cabaço de
menino da localidade.
Indiferente
ao tumulo que começava, Padre Nezinho continuou:
---
O rei de Sodoma era o maior veado da paróquia. E era gilete, bi, cortava na
frente e atrás!
---
Vambora gente – ordenou Machinho, quase arrastando a esposa para fora da
igreja.
Os
fiéis foram abandonando o recinto, alguns rindo, outros escandalizados. O padre
tomou um gole de vinho e explicou:
---
A rainha de Gomorra dava mais do que chuchu na serra e a princesa sua filha
levava mais vara do que plantação de inhame.
Enquanto
o pastor prosseguia seu sermão pornográfico, os últimos fiéis já deixavam a
igreja.
---
Mas Deus na sua infinita bondade entendeu que aquela gente precisava de ajuda e
resolveu auxiliar aquele povo devasso.
Com
as últimas palavras de padre Nezinho, os fiéis retornaram, desconfiados.
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Naquela época, Deus tomava cada decisão da porra! – estragou o pastor daquelas
ovelhas pudicas.
Inquietação,
sussurros, gente se preparando para se levantar de novo.
---
Deus mandou um anjo.
Acalmaram-se
os fiéis novamente.
---
Pois não é que comeram o pobre do anjo!
No
dia seguinte, Severino Carlos decretou lei seca na sua venda. Para gente
vestida de batina.
(Do livro “Paraíba & Pernambuco, um casal
muito maluco”)
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