sábado, 3 de janeiro de 2015

POEMA DO DOMINGO


Feliz ano velho

Vai um salve a quem é de ano novo
Saudação a quem é de Yemanjá
Salve, salve quem é de Oxalá
E um aceno para o resto do povo
Eu que tenho ativo só um ovo
Não prometo acabar o ano bem
As mazelas são muitas, e além
Só enxergo a estrada do carneiro
Quem ficar, fique bem, feliz e inteiro
Para a glória dos seus, enfim, amém...

Se parei não é da conta de ninguém
Cada um leva a vida como pode
Uns plenos de lascívia, como o bode
Outros choram a força que não tem
Se o vigor varonil vai muito além
É da lei essa grande decadência
Resta ao velho incapaz tomar tenência
Porque sua eficácia chega ao fim
Guardo belas saudades, e de mim
Só preservem o prazer por referência.

Para o antigo, viver é penitência
Contrição e remorso, punição
Pelas falhas, ação e omissão
Praticadas na sua existência
Resta agora sofrer com paciência
Procurando restinhos de prazer
Um carinho, abraço, bem-querer
Do ente que restou em sua vida
Criatura, enfim, que é mais querida
Que passou no funil da biografia
Essa santa venero todo dia
Fruta plena e amadurecida.

Os amigos que vemos na descida
Muito poucos, se contam numa mão
Estendida para a extrema unção
Fim de festa, no ocaso de uma vida
Quando toda energia é exaurida
Só restando a saudade de outrora
Dê licença que eu vou partir agora
Pelo atalho da reles existência
Prisioneiro da dor e da demência
E na fila da “velha senhora”.

Antonio Xexéu


Nenhum comentário:

Postar um comentário