Feliz ano velho
Vai
um salve a quem é de ano novo
Saudação
a quem é de Yemanjá
Salve,
salve quem é de Oxalá
E um
aceno para o resto do povo
Eu
que tenho ativo só um ovo
Não
prometo acabar o ano bem
As
mazelas são muitas, e além
Só
enxergo a estrada do carneiro
Quem
ficar, fique bem, feliz e inteiro
Para
a glória dos seus, enfim, amém...
Se
parei não é da conta de ninguém
Cada
um leva a vida como pode
Uns
plenos de lascívia, como o bode
Outros
choram a força que não tem
Se o
vigor varonil vai muito além
É da
lei essa grande decadência
Resta
ao velho incapaz tomar tenência
Porque
sua eficácia chega ao fim
Guardo
belas saudades, e de mim
Só
preservem o prazer por referência.
Para
o antigo, viver é penitência
Contrição
e remorso, punição
Pelas
falhas, ação e omissão
Praticadas
na sua existência
Resta
agora sofrer com paciência
Procurando
restinhos de prazer
Um
carinho, abraço, bem-querer
Do
ente que restou em sua vida
Criatura,
enfim, que é mais querida
Que
passou no funil da biografia
Essa
santa venero todo dia
Fruta
plena e amadurecida.
Os
amigos que vemos na descida
Muito
poucos, se contam numa mão
Estendida
para a extrema unção
Fim de
festa, no ocaso de uma vida
Quando
toda energia é exaurida
Só restando
a saudade de outrora
Dê
licença que eu vou partir agora
Pelo
atalho da reles existência
Prisioneiro
da dor e da demência
E na
fila da “velha senhora”.
Antonio
Xexéu
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