Na vila de Asa
Branca, em Pilar, mora o casal Galego do Boi e Maria de Nair, onde estive nesta
segunda-feira para uma ligeira entrevista com o casal de brincantes do Boi de
Nair, folguedo famoso na terra de Odete Cirandeira. Galego não fez esforço para
esconder sua decepção com os órgãos públicos do município. “Não se tem apoio
nenhum. No tempo de Zé Benício, a gente saía pra brincar em outras cidades, tinha
o pano pras fantasias, o transporte. Agora, nada...”, reclama Galego. Talvez,
por isso, desconfie de todo mundo que apareça para falar em cultura popular,
sem garantia de que pode ajudar o grupo folclórico fundado por dona Nair, mãe
de dona Maria, há mais de cinquenta anos. Morta Nair, o boi prossegue com seu
genro e sua filha. “Vamos botar o boi na rua todo ano, porque era isso que Nair
queria e minha obrigação é prosseguir na brincadeira”, diz Galego.
Para honra minha,
o casal me tratou super bem, mesmo porque estava eu acompanhado do poeta Evanio
Teixeira, sujeito seguidor da boa norma da cidadania e benquisto no território.
Tratei a ida do boi de Nair para Mari em setembro vindouro, se vingar projeto
do pessoal do Ponto de Cultura nas Ondas do Rádio que propõe um segundo turno
do projeto “Cavalo Marinho do Mestre Ciço”, experiência de resgate da cultura
popular que levamos em Itabaiana no ano de 2013, pelo Ponto de Cultura Cantiga
de Ninar.
Esse universo
poético da cultura popular é cachaça rara e exclusiva, cultivada na Paraíba do
Norte para degustação de quem tem sensibilidade. São esses grupos aguerridos
que convertem e comovem quem, como eu, ama a cultura do seu povo. De lá, saí
para Itabaiana, em missão de contratar os bois da terra de Zé Especiá, o maior
mestre da brincadeira. Foi complicado encontrar quem respondesse pelo Boi dos
Inocentes, Boi Furacão, Boi Mister Bomba, Boi Reciclado e outros bois dessa
boiada sem condutor certo, tanto quanto informal como é a brincadeira
espontânea desse povo periférico. O homem tragado na fatalidade da existência
sem brilho, que encontra poesia e saúde mental nos inocentes balanços e no
batuque inefável do tambor do boi, do caboclinho, do urso carnavalesco. Essa
figura comum de nordestino analfabeto carrega no inconsciente todo o imaginário
mágico do rico folclore da comunidade. Somos apenas os facilitadores desses
encontros. Quem sabe, em setembro vamos juntar esses bois e caboclos juremeiros
na velha Araçá dos Luna Freire.
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