terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Na casa de Galego do Boi e Maria de Nair


Na vila de Asa Branca, em Pilar, mora o casal Galego do Boi e Maria de Nair, onde estive nesta segunda-feira para uma ligeira entrevista com o casal de brincantes do Boi de Nair, folguedo famoso na terra de Odete Cirandeira. Galego não fez esforço para esconder sua decepção com os órgãos públicos do município. “Não se tem apoio nenhum. No tempo de Zé Benício, a gente saía pra brincar em outras cidades, tinha o pano pras fantasias, o transporte. Agora, nada...”, reclama Galego. Talvez, por isso, desconfie de todo mundo que apareça para falar em cultura popular, sem garantia de que pode ajudar o grupo folclórico fundado por dona Nair, mãe de dona Maria, há mais de cinquenta anos. Morta Nair, o boi prossegue com seu genro e sua filha. “Vamos botar o boi na rua todo ano, porque era isso que Nair queria e minha obrigação é prosseguir na brincadeira”, diz Galego.

Para honra minha, o casal me tratou super bem, mesmo porque estava eu acompanhado do poeta Evanio Teixeira, sujeito seguidor da boa norma da cidadania e benquisto no território. Tratei a ida do boi de Nair para Mari em setembro vindouro, se vingar projeto do pessoal do Ponto de Cultura nas Ondas do Rádio que propõe um segundo turno do projeto “Cavalo Marinho do Mestre Ciço”, experiência de resgate da cultura popular que levamos em Itabaiana no ano de 2013, pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar.

Esse universo poético da cultura popular é cachaça rara e exclusiva, cultivada na Paraíba do Norte para degustação de quem tem sensibilidade. São esses grupos aguerridos que convertem e comovem quem, como eu, ama a cultura do seu povo. De lá, saí para Itabaiana, em missão de contratar os bois da terra de Zé Especiá, o maior mestre da brincadeira. Foi complicado encontrar quem respondesse pelo Boi dos Inocentes, Boi Furacão, Boi Mister Bomba, Boi Reciclado e outros bois dessa boiada sem condutor certo, tanto quanto informal como é a brincadeira espontânea desse povo periférico. O homem tragado na fatalidade da existência sem brilho, que encontra poesia e saúde mental nos inocentes balanços e no batuque inefável do tambor do boi, do caboclinho, do urso carnavalesco. Essa figura comum de nordestino analfabeto carrega no inconsciente todo o imaginário mágico do rico folclore da comunidade. Somos apenas os facilitadores desses encontros. Quem sabe, em setembro vamos juntar esses bois e caboclos juremeiros na velha Araçá dos Luna Freire.

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