Os policiais do destacamento de Polícia da cidade de Itabaiana, ontem,
por duas vezes, procuraram agredir o estudante Francisco Almeida, autor de um
artigo publicado no semanário “Evolução”, ora em circulação naquela cidade, sob
o título “Campanha de recuperação moral”, onde denunciava a jogatina
desenfreada que campeia em todo município.
As tentativas de agressões pela Polícia contra o estudante foram levadas
ao conhecimento do Secretário de Segurança do Estado, que enviou ofício ao Comissário
de Polícia de Itabaiana, advertindo-o e determinando que o estudante mencionado
tivesse a liberdade e as garantias da Polícia, ao mesmo tempo em que
determinava o fechamento das casas de jogo existentes naquela cidade.
Esta matéria foi publicada no Correio
da Paraíba de 7 de novembro de 1964. O texto provavelmente foi escrito pelo
jornalista Cecílio Batista, itabaianense que fez carreira na imprensa da
capital. O estudante citado era o Chico Veneno, uma dessas criaturas que marcam
profundamente o espaço social onde vivem, com suas ideias à frente do seu
tempo, sua coragem e convicções conflitantes com o status quo. Chico foi militante político de oposição em plena
ditadura, foi denunciado pelos seus inimigos de Itabaiana, preso e interrogado
pelo Exército. Respondeu a inquéritos militares, acusado de atividades
comunistas. Ao golpear a burguesia com seu espírito libertário em um tempo
tenebroso, foi caçado e cassado.
Uma pessoa inquieta, de forte
personalidade e inteligência acima da média, Chico foi amado e odiado pelos de
sua geração. Ontem, conversando com familiares dele, fiquei sabendo que Chico
também enveredou pelo cinema, tendo produzido um documentário sobre quilombolas
no sertão da Paraíba. Foi jornalista combatente e orador inflamado.
Esse rapaz suicidou-se aos 31 anos de
idade. Em sua curta história de vida, agitou a cultura de Itabaiana, chacoalhou
a falsa moral provinciana da época e cutucou as onças do reacionarismo com vara
curta. No seu jornal, espinafrava coronéis poderosos como o usineiro Agnaldo
Veloso Borges, a quem chamava “onça covarde do agreste”. Em Itabaiana, bateu de
frente com o chefe político local, Antonio Batista Santiago. Por vingança,
Santiago denunciou Chico aos órgãos de segurança da ditadura militar.
Nesse começo de 2015, quero me dar esse
presente de estudar a vida de Francisco Joaquim de Almeida e, quem sabe,
escrever um livro baseado nas suas ações no campo da cultura e da política. Por
outro lado, vou reeditar seu jornal EVOLUÇÃO”, sem a pimenta malagueta do tempo
de Chico Veneno, mas como uma homenagem que presto a esse agitador cultural.
“Os malucos, os rebeldes, os
criadores de caso, os que veem as coisas de forma diferente, são geniais porque
as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo, são
as que, de fato, mudam”. De um escrito americano
cujo nome não lembro agora.
Fui contemporâneo de Chico, inclusive em 1966 dividíamos um quarto numa pensão na Rua Peregrino de Carvalho, um sobrado antigo vizinho ao antigo Cine Rex, salvo engano onde morou Diogo Velho,esse prédio era vizinho ao sobrado onde moraram os pais do jovem José Peregrino de Carvalho.
ResponderExcluirJoão Wilson de Luna Freire.