Faça e não peça votos em troca, porque senão
todo seu discurso humanitário cai por terra. Acredito na boa vontade das
pessoas, sem querer nada em troca. É raro, mas existe esse tipo de ação. Eu
disse isso a um rapaz chamado Aglair, que mora no sítio Cariatá, na zona rural
de Itabaiana. Ele comprou uma ambulância “com recursos próprios” para
transportar pacientes de sua região. “Trabalho com meus próprios recursos e
realizo essas ações sem segundas intenções, pois sempre fiz e pretendo fazer o
que estiver ao meu alcance para ver a satisfação dos meus conterrâneos”, disse
ele.
O samaritano Aglair Lúcio de Oliveira deve ser
uma pessoa legal, mas começa pecando por fazer propaganda dos favores que
presta. Pesquisando no Google, vejo que o jovem samaritano cariataense é
personagem principal em diversas matérias onde aparecem os pacientes
agradecendo pelo favor. Em outra página da internet, Aglair é apresentado como
candidato a vereador, e aí entendi tudo. Trata-se de estratégia política
clientelista, manobra que deu certo para um certo vereador local, motorista da
Prefeitura que aprendeu o “caminho das pedras” do clientelismo e nunca mais
perdeu eleição. Em 2012, Aglair de Cariatá ficou como suplente de vereador pelo
PSD, obtendo 342 votos.
No Dicionário Informal, clientelismo “é um
sub-sistema de relação política - em geral ligado ao coronelismo, onde se
reedita uma relação análoga àquela entre suserano e vassalo do Sistema Feudal,
com uma pessoa recebendo de outra a proteção em troca do apoio político”.
Portanto, prática que se concretiza quando o político acomete algum
favorecimento (cesta básica, transporte de doente) atrelando o cidadão àquele
que o favorece em troca de voto e fidelidade política, prática comum no Brasil
- vide voto de cabestro e outros.
“O clientelismo é um destes termos que, como o
populismo, usamos de forma recorrente para explicar certos males nacionais que
seriam provenientes de uma condição inescapável de país atrasado. Diagnóstico
que vem acompanhado de todos os subprodutos que lhe são peculiares. Uma elite
constituída de “raposas velhas” que manipulam um povo ignorante e indefeso em
função da sua miséria e baixa escolaridade.”, explica o cientista político
Paulo M. D’Ávila Filho.
O político Aglair de Cariatá talvez nem saiba, no entanto, sua ação
é mais uma prática funesta, clientelística, deseducadora da política
democrática e republicana e, cada vez mais, estimuladora da corrupção. Muito
por causa desse tipo de manobra, o município tem um dos piores Indicadores de
Desenvolvimento Humano da região.
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