Passeando nas ruas da capital Parahyba do Norte com meu
compadre Vavá da Luz e minha bike que serve de muleta, cadeira de rodas e taxi.
A bichinha é modesta, mas faz o que pode no transporte deste ex-condutor de
veículo automotor, agora ciclista por mode a crise.
Dizem que a felicidade anda de bicicleta, ainda com
a vantagem de que ladrão nenhum vai te importunar, com essa cara e jeito de
pobre. As vantagens: economia de tempo nesse trânsito pesado; economia de
dinheiro com gasolina pelos olhos da cara, flanelinha e demais itens de manutenção
de um carro; a endorfina que é liberada no trajeto faz você ficar com melhor
humor e saúde; nada de medo de ser assaltado e necas de poluir o ar já bastante
sujo. Desvantagens: nádegas doloridas e um tiquinho de dor na coluna para quem
já passou dos cinquenta.
Por isso eu rodo com a minha magrela, mesmo sabendo
que sou visto como um sujeito desafortunado, quase mendicante. Sim, porque na
Parahyba do Norte, quem anda de bicicleta passa duas imagens contrastantes: ou
é o riquinho classe merda com sua bike caríssima e sua turminha de ciclistas de
fins de semana, ou o trabalhador lascado que não pode pagar passagem de ônibus.
Aqui só não, em todo canto esse povo tem nojo de bicicletas. Em São Paulo, nas
regiões mais ricas, moradores já sabem: quem anda de bicicleta não presta.
Seu Alexandre, de São Paulo, é quem diz: “se a
população fosse mais educada e tivesse mais discernimento, usaria a bicicleta como
meio de transporte”. Na mesma frase, seu Alexandre lasca: “quase todo dia sou
quase atropelado por automóveis imbecis, mas como sou educado, mando o
motorista tomar no centro e ainda por cima risco o carro com o guidão de minha
bicicleta”. Eita, ciclista educado da gota!
No meu caso, pratico o ciclismo de rua defensivo.
Nada de concorrer com os automóveis nem fazer gracinha no trânsito. Só confesso
dois defeitos: ando na contramão e não dispenso calçada.
Mas é verdade que muita gente deixa de rodar de
bicicleta por vergonha. Seu Leandro é um desses ciclistas enrustidos. “Eu ia de
bike, mas a turma zoa demais. Outro dia, um viado gritou, no sinal: ‘pega essa
merda e bota aqui na mala do meu carro’. Fiquei com uma vergonha da porra, todo
mundo dando risada”. Se eu pudesse, diria a seu Leandro que não deixe que esses
otários privem sua liberdade de escolha e seu transporte saudável. Se você se
sente bem pedalando, que continue. Quem tem que mudar os seus conceitos é essa
turma de alienados motorizados.
Portanto, meu bom, vamos de bike e não esqueça de
se alongar um pouco e comer algumas bananas. Elas recuperam sua energia, evitam
câimbras e matam a fome. Coisa de pobre? Que nada! Solução de vida para gente
inteligente como Marcelo, que ganha tempo e condicionamento físico na sua bike
personalizada com farol, pisca alerta e equipamento para ser rastreada via
satélite.
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