O
real
Como
posso reconhecer o real
se
para mim as sombras se movem
e
amigos imaginários
declamam
poesias infames ao meu ouvido?
E
tudo soa tão engraçado
quanto
uma vida sem graça,
que
segue sempre caindo em desgraça,
de
quem logo quando sai pela manhã
de
tão usada se solta a sandália,
e
o calçamento como uma navalha
quase
me arranca do pé o dedão,
pra
completar me desequilibro,
tombo,
caio com a cara no chão,
ainda
tenho que me erguer sorrindo,
sentindo
dor continuo fingindo
e
acenando pra multidão.
Pra
quem me viu cair, engolir o choro e sorrir
e
nem sequer me estendeu a mão.
Mas
isso pra mim é só o começo do dia,
é
só a primeira aparição,
de
alguém que depois da queda
segue
desconsolado,
cabeça
baixa e semblante cerrado
a
caminho da padaria,
enfia
a mão no bolso e percebe
que
junto com a unha do pé
perdeu
também o dinheiro do pão,
só
me resta voltar pra casa sombrio,
ficar
um pouco mais de estômago vazio
e
entender que o jeito é seguir calado
se
contentando com um café gelado
e
tentando enganar a fome,
esperando
a hora do feijão.
Agora com fome eu te pergunto,
Agora com fome eu te pergunto,
meu
real é igual ao seu?
O
meu são sombras que se movem
e
poesias de quem nem sequer viveu,
ou
estará tudo preso a minha visão,
não
será só alucinação?
Pela
falta do pão, do café da manhã
ou
da fé no amanhã, de quem não vive
e
apenas sobrevive, engolindo tudo sem comer nada,
sentindo
a dor do vazio e se contentando
com
um sorriso frio das sombras
que
nunca estendem a mão e os amigos imaginários
que
falam de agonia e isso soa como poesia
dizer
que é pra mim um amigo,
do
tipo que me vê parado
e
não pergunta o que há de errado enquanto
morro
de inanição, pelo menos tenho um consolo
que
não me deixa um completo tolo,
é
que com esse amigo eu conto,
um
dia este me estenderá a mão,
nem
que seja em um último momento
quando
for fingir um lamento
na
hora de carregar meu caixão.
Renaly
Oliveira
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