Os três mosqueteiros que são quatro apalermados a trabalhar de graça por um mundo melhor. Eu, maestro Josino Mendes, professor Normando Reis e o artesão Rosival |
“Um cara como Fabinho é uma espécie de remador
profissional, mas sem barco.” Quem me soltou esta pérola foi um camarada meu,
após saber que o Ponto de Cultura foi despejado, está sem teto. Antes de
encerrar minha carreira de produtor cultural (eu era agitador cultural, mas
mudei de faixa), gostaria de deixar em Itabaiana, minha terra adotiva, um
espaço multicultural, com auditório, biblioteca, sala de ensaios e, se
possível, salas para abrigar algumas organizações não governamentais do setor.
Quanto às dificuldades para manter projetos sem fins lucrativos, isso eu já
estou adaptado, faz parte. Não quero que me vejam como um herói incompreendido
ou coisas desse tipo. O meu histórico é de luta pela cidadania, desde os
tristes tempos da ditadura, que uma parte de alienados quer de volta. Nossa
realidade foi e será sempre assim: uma parte feita dos que lucram e outra parte
dos que têm prejuízo, trabalhando pra enricar a outra parte mais “viva”. No
meio dessa guerra (a luta de classes não acabou nem dá sinal de parar enquanto
existir capitalismo), tem gente do meu tipo, eterno aprendiz de Dom Quixote,
insistindo em enxugar gelo pela vida afora.
De qualquer forma, o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar
ainda respira por aparelhos. Sem dinheiro, vivemos de contribuições esporádicas
de amigos. Meu plano era executar o programa do convênio com o Ministério da
Cultura em dois anos. Já estamos com as portas abertas há oito anos. Sobrevida
é isso aí. Sem muita pretensão, já formamos bons artistas, realizamos muitos
eventos culturais de boa qualidade, formamos grupos de música e de teatro, além
de artesãos, bailarinos e gente envolvida com audiovisual. Se parar agora, tem porfólio exuberante. E ainda nos damos
ao luxo de lançar, vez por outra, o “Jornal do Ponto”.
Estamos concorrendo ao patrocínio do Fundo de
Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos para uns projetos na área de leitura e
biblioteca. Se sair, ainda teremos fôlego para mais alguns sofridos quilômetros
de estrada. Fora isso, ainda espero a solidariedade dos amigos para manter o
Ponto. Mas, dificilmente continuaremos. Tudo tem seu tempo. Guardo alguma
esperança de que pessoas jovens da cidade assumam esse projeto, de grande importância
social e cultural. Do tal poder público, nada a esperar.
Às vezes acho que sou tolo, mesmo assim gosto de ser
otário. Os tolos são aqueles de que fala o Evangelho, que dão a outra face pra
bater. Eles imaginam que um dia poderão mudar a realidade. Às vezes, mudam
mesmo. No fim, são esses malucos de muita importância para a sociedade. Cuide
bem do abestalhado. Já alimentou seu bobo hoje? Dos patetas é o reino dos céus.
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