O nome da figura é Esperantivo, morador do sertão de Orobó,
meu confrade na Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Esperantivo é um poeta
ativo que descobre todo dia o assombro, a glória e a danação de ser poeta
popular e acreditar na sua arte até as últimas consequências. No caminho para o
trabalho, no ônibus lotação, ele se põe a declamar seus versos, sabendo que por
mais que os passageiros se aborreçam, o motorista se enfade e os gaiatos
gaiatem - por mais que o instante seja anacrônico, que
a hora seja acidente, que o contexto não aceite texto, Esperantivo, o poeta
ativo, manda ver suas sextilhas expressando o profundo amor pela arte do seu
povo e a coragem dos mambembes dançando a dança da vida, convocando nosso
espírito a largar a lucidez e brincar de loucos.
Esperantivo
não realiza nada de espetacular para nossos olhos e ouvidos habituados com a
cultura de massa encefálica estercal. Suas sextilhas rebrilham, mas os passageiros
nem percebem. Fúteis e medrosos, os ouvintes olham em torno, esboçam sorrisos tímidos,
hesitantes e resignados. Mas o poeta continua martelando seus martelos e
declamando seus mourões. Não adianta tapar os ouvidos que o eco da fala da
gente impregnada de ventos doces e perfumados vai levar a viagem toda a dizer versos
assim:
Se o
povo é massacrado
Vivendo
como um caipora
Vai chegar
a sua hora
Dele
ser mais respeitado
Nem
governo ou deputado
É pai
ou mãe do povão
Porque
pra essa nação
Viver
com dignidade
É só
a sociedade
Se juntar
em união.
No
meio daquelas almas suburbanas, haverá sempre um que quer entender e se põe a
refletir sobre as palavras do poeta.
Refletir é transgredir a ordem do superficial.
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