segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Minha falsa Brasília amarela

Eu me lembro bem desse carro, uma Variant amarela diarreia que a maldade humana chamava de cabaré ambulante só porque eu tinha o hábito de sempre carregar uma meia dúzia de mulheres da “vida fácil” pra empurrar o calhambeque, no caso de uma precisão, entupimento do carburador ou falha no sistema elétrico. Meu cúmplice nessas aventuras com minha Variant era meu compadre Sander Lee, cujo irmão, Dedé Braço de Radiola, aparece aí na foto, depois que eu vendi o carrinho ao pai dos citados, mestre José Ferreira do Sindicato.

Eu querendo seguir a vida dentro dos padrões naturalistas, mudei de vida, passei a andar a pé, porque o dinheiro do carro gastei numa farra na cidade de São Miguel de Taipu. Isso se deu nos idos de 1977. Só agora apareceu essa foto no Facebook, postada pelo Sander Lee. Não é que bateu uma saudade da minha Variant velha de guerra?

O automóvel em muito bom estado de conservação, foi conservado pelo mestre José Ferreira como uma joia de família, proibida a venda mesmo depois dele morto. Assim foi feito. Até hoje a Variant descansa na garagem, como prova do amor de seu Ferreira pelo carro, porque esse cidadão era muito chegado ao nacionalismo e a Variant tratava-se de um produto genuinamente brasileiro. Durou apenas três anos no mercado, que brasileiro não dá muito valor ao que produz. A Variant ficou conhecida como “Sapatão”, porque era muito parecida com o Volkswagem Brasília.

Dito isto, quero dizer ainda que o distinto José Ferreira era mestre na medicina popular, doutor nas plantas medicinais. E também registrar que a Variant eu adquiri em troca por um Maveric azul cobalto cintilante, carro mais bebedor do que o proprietário, no caso eu, na época campeão em arremesso de copo.

Deu-se que um desajustado social com sangue de peixe e consequentemente com a mãe piranha, achou de dedurar ao meu pai, na época chefe do Departamento de Trânsito da cidade, que minha vida era dar cavalo de pau no meio da rua em adiantado estado etílico. Fui proibido de dirigir, bêbado ou sóbrio. Perdi minha condução para as divagações pecaminosas e farras intermunicipais.

Eurípides era um mecânico metido a filósofo de bar. Numa ocasião, levei a Variant pra ele consertar com urgência umas esfarrapadas do motor, porque eu precisava do carrinho. À noite, pretendia viajar em estradas incertas e não sabidas em busca de umas batidas de bombo e de bunda em determinada zona. Eurípides ligou o motor, escutou o chiado suspeito, deu o veredicto: “tem que abrir, vai demorar dois dias, no mínimo”. Diante de minha desolação, jogou a ideia machista:

--- Camarada, carro é como mulher, só presta a gente tendo dois.





Nenhum comentário:

Postar um comentário