Instalação
de arte conceitual – autor desconhecido
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Estou lendo na
revista “Cadernos de cultura”, de junho de 2010, editado pela então
Subsecretaria de Cultura do Estado, uma matéria onde se anuncia a implantação
em João Pessoa do Memorial Sivuca, com apoio do Ministério da Cultura. O
próprio ministro Juca Ferreira disse que o memorial haveria de ser uma coisa
grande, à altura de um dos maiores músicos do século XX em todo o mundo. Tanto
que o projeto original teve que sofrer alterações para se adequar às
necessidades de atender às questões de ordem museológica, além de arte
educação.
Esse Memorial Sivuca
seria coisa de primeiro mundo, uma instalação até futurista, com acervo físico,
conteúdo digital, enfim, um complexo de cultura que seria localizado em um
casarão na Praça da Independência, ao lado da Casa do Artista Popular. Um
espaço único, com teatro, biblioteca especializada, salas para cursos, sala
para leitura das partituras do Mestre Sivuca, museu, cafeteria, salas
audiovisuais em alta definição, espaço para eventos nos jardins externos, para
documentar, difundir e celebrar a obra e a memória do grande artista
itabaianense, “tudo orientado pelas técnicas mais avançadas da museologia e da
museografia contemporâneas.”
No memorial seriam
instalados equipamentos audiovisuais com emprego de grandes monitores de LCD de
alta definição, aparelhos de multivídeo panorâmico e todas as possibilidades de
reprodução e ampliações fotográficas, com rica pesquisa iconográfica,
documental histórica, de objetos, audiovisual, material didático, etc.
Antes, em 2009, o subsecretário de Cultura do Estado, David Fernandes, garantia que a implantação do Memorial Sivuca seria na cidade de Itabaiana,
terra natal do grande artista paraibano. O local seria o prédio onde funciona a
Loja Maçônica. “Fazer esse
Memorial é uma das prioridades do governo, e vim apenas conhecer o local e
anunciar ao povo de Itabaiana as palavras do governador José Maranhão, que o
Memorial Sivuca vai ser feito aqui”, disse o subsecretário de Cultura.
Neste mesmo ano, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista
exclusiva ao site ClickPB, revelou
que o mais breve possível será construído na cidade de Campina Grande, um
memorial em homenagem a Sivuca. “O anúncio foi feito em 10 de julho de 2009, nas
presenças do secretário estadual de Educação, Sales Gaudêncio, e do secretário
estadual de Cultura, Flávio Tavares. “Na
luta pela escolha entre o agreste e o litoral, nossa preferência será por
Campina Grande. Não que João Pessoa não mereça, mas a musicalidade de Sivuca
está mais ligada à Serra da Borborema, pois as nascentes de culturas musicais
polarizam aquela região”, explicou o Secretário, adiantando que “é pra ontem a
execução do projeto.”
No ano seguinte, a
revista garantia que o Governador José Maranhão seria o maior entusiasta do
projeto Memória Sivuca, mas em João Pessoa. Pelo menos assim parecia em janeiro
de 2010. A gente ousa perguntar: o que foi feito desse projeto tão grandioso e
que seria a “menina dos olhos” do governador e até do Ministro da Cultura? Para
onde foi destinada a verba desse suntuoso memorial?
Meu nobre amigo
Valdemir Almeida, cônsul honorário da nossa Itabaiana em terras tabajaras,
grande amigo do ex-governador José Maranhão, nas suas conversas com ele,
poderia indagar a respeito disso?
Os artistas são seres
despreocupados com o tempo. Consta que o artista plástico italiano Guglielmo
Cavellini saía em seu iate do cais, sem se preocupar com o lugar para onde ia,
ou quanto tempo duraria a viagem. Nessas viagens sem compromisso, levava convidados
que depois quase enlouqueciam por perder compromissos, viajando em alto mar sem
destino. Para Cavellini, o tempo e o espaço eram coisas do acaso. Tanto que, em
1994, programou um evento para o século seguinte, antecipando um acontecimento
em que não estaria presente, em vida. Penso que é assim que funciona a
burocracia oficial. Sem nenhum compromisso com o tempo. Esse projeto, tão
urgente em 2010, vai fazer cinco anos em janeiro próximo sem que um único
tijolo tenha sido assentado, seja em Itabaiana, João Pessoa ou Campina Grande.
Sem sair do tema,
poderíamos supor que esse Memorial Sivuca seria uma espécie de arte conceitual,
onde se valoriza
mais a ideia da obra do que o produto acabado, sendo que, às vezes, este
(produto) nem mesmo precisa de existir.
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