“Quem anda de bicicleta não presta”: moradores de áreas
nobres de São Paulo acionam Ministério Público contra ciclovias
“Eu surtei quando vi
a faixa da Prefeitura”, afirma a médica Célia Funari, de 47 anos. A indignação
começou depois da circulação de um comunicado do governo municipal aos
moradores do Jardim Paulista, no final de novembro, sobre a chegada de uma
ciclovia na Rua Honduras, travessa residencial com casas de alto padrão na zona
sul de São Paulo. Moradora na rua, Célia mandou carta aos vizinhos pedindo
apoio contra a iniciativa. Em dois dias, ganhou adesão em massa.
Alguns moradores da
Rua Honduras também temem assaltos por causa da faixa. “Quem anda de bicicleta
não presta, hoje nós sabemos disso. São pessoas não qualificadas. Então vamos
ficar sujeitos a esses riscos aqui?”, questiona o aposentado Francisco Augusto
da Costa Porto, de 74 anos. (Jornal do Brasil)
“A elite brasileira é
atrasadíssima e semeia o ódio”, disse Guilherme Boulos, líder campesino. É
significativo o fato de que milhares de pessoas não tenho nenhuma vergonha de
sair nas ruas, mostrando a cara e defendendo uma intervenção militar, um golpe
militar, segregação do País, morte a nordestinos, pobres e homossexuais. Um
sentimento que vem da Casa Grande e repercute numa classe média principalmente
no Sul e Sudeste.
Esse tipo de
percepção atinge agora até quem anda de bicicleta. Mede-se a cidadania pelo
meio de transporte utilizado. Quem anda de ônibus coletivo ou de bicicleta é
tratado de forma diferente. Frederico disse que quem usa bicicleta, ou não tem
dinheiro ou tem consciência, dois tipos de gente perigosa. Nos países
adiantados socialmente, os ciclistas são respeitados, existem ciclovias,
bicicletários e leis decentes. Aqui, somos apenas vermes em cima de bicicletas,
atrapalhando o trânsito. Ciclista é sinal de pobreza e marginalização. Acham
que deprecia a imagem desses pobres de mentalidade.
A bicicleta traz
saúde, opção de mobilidade sustentável e preservação do meio ambiente, mas não
tem prestígio em nosso mundinho escroto. O filósofo Isah Andreoni afirma que “o
que nos impede de usar a bicicleta em nossa rotina está em nossa cabeça, nas
associações que estabelecemos em relação a esse meio de transporte, tendo o
carro como referência”.
A respeito da matéria
do jornal sobre o morador de área nobre de São Paulo que não quer bicicletas
por perto, o jornalista Jamarri Nogueira debocha: “Dados estatísticos mostram
que ciclistas são responsáveis por 90% dos acidentes com mortes em vias urbanas
e que eles, os ciclistas – também teriam responsabilidade direta no aumento do
buraco da camada de ozônio, sendo – inclusive – protagonistas do escândalo da
Petrobras e incentivadores da privataria tucana. Regina Duarte já disse que tem
medo de ciclistas...”
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