Esses dois meninos
eu conheço. O de chapéu é meu compadre poeta Edriano Silva, filho de Bela e do
mestre Josa dos índios. O outro é o ator Geraldinho Moraes. Os dois estão em
plena manifestação nas ruas de Itabaiana, querendo também mudar o Brasil. Isso
é poesia pura! Numa cidadezinha qualquer perdida na imensidão do Brasil, dois
jovens arriscam sair pelas ruas de seu lugarejo desfraldando a bandeira do
combate à corrupção, aos desmandos, à cobiça do capitalismo que “ergue e
destrói coisas belas”, gritando por um país mais justo. São apenas dois rapazes
em plena consciência cidadã vestidos de euforia e fé, e isso era alegre e tinha
uma beleza ingênua e imprevista.
Esse singelo
quadro é emoldurado por uma comunidade apática, dormente, dependente. Isso me
dá uma angústia dolorosa, mas os meninos do protesto nem pensam nisso. Eles
ainda têm o sentimento vivo de que “navegar é preciso”, mesmo em águas turvas.
Estão longe de experimentar a grossa tristeza da vida e o desencanto de um
senhor de meia idade que um dia também marchou na luta social. Fiquei um
instante a imaginar o sentimento de muitos anos atrás, quando eu puxei uma
passeata de camponeses pelas ruas de Itabaiana gritando por reforma agrária e
por justiça no campo, cercado por policiais e cidadãos desconfiados, medrosos.
Estávamos em plena ditadura militar, o país vestido de escuro. Protestar era
uma aventura. Hoje é meio carnaval, meio modismo. Está se tornando até vulgar,
uma coisa fugaz, sem compromisso, quase sem gosto da luta consequente.
No caso dos
meninos aí de cima, não. Eles dispensam perfeitamente o papel de alienados e
inconsequentes correndo atrás de modismos. São caras inteligentes, jovens gentis,
amáveis, cordatos, que pensam. E pensar é um troço meio raro hoje em dia. O
protesto desses garotos não é um gesto sem alma.
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