Uma batalha
sem perdedores!
Adeildo
Vieira
Não
aceito a ideia de que há cultura maior que outra. Defendo que há cores
diferentes na aura de povos diferentes, exaltando o jeito que inventaram pra
traçar os caminhos pra sua felicidade. Afirmar que há cultura maior que outra é
o mesmo que dizer que há povos melhores que outros. Mas gente é gente em
qualquer lugar. Cada povo constrói seu norte, pois bem sabe pra onde quer que a
vida aponte.
Nós,
brasileiros, somos alquimistas capazes de manipular as felicidades do mundo. Os
movimentos da história transformaram nossa cultura em um amálgama de almas
multicolores vindas daqui de d’alhures. Em nosso povo a paleta de cores d’alma se
fundiu e o resultado dessa mistura é a densidade da cor de nossa identidade,
ainda que tenhamos perdido boa porção da alma-pau-Brasil, que já verdejou no
coração dos nossos índios.
Nascido
em guetos americanos, o hip hop logo se popularizou pelo mundo, certamente por
ter surgido como canal de expressão para um discurso engajado contra as
injustiças sociais nas periferias, realidade encontrada em tantos outros países. A proposta musical deste movimento,
construída a partir de batidas eletrônicas que conduzem um discurso contestador
falado, deu surgimento ao rap – rhythm and poetry, que no Brasil ampliou a
concepção da proposta para “Ritmo, Atitude e Poesia”. Mais do que simples
discurso marcado por bits eletrônicos, o rap brasileiro agregou traços das
culturas regionais, além de passar a ser o canal verbal para disseminar uma
filosofia libertadora para as populações periféricas, não só calcada em
denúncias, mas, sobretudo, apontando para uma organização política que os
liberte da submissão.
Na
semana passada vi uma maravilhosa faceta do rap, conduzida pelo rapper e DJ paraibano
Pertinaz, que defende entusiasticamente a cena do hip hop do nosso estado,
assumindo com orgulho a sua condição cosmopolita de ser morador do bairro de
Mangabeira. O evento foi no Colégio Estadual José Lins do Rego, no bairro do
Cristo. No palco, uma batalha de rappers. Na platéia estávamos eu, meu filho
Rudá e uma legião de seguidores daquela cultura que traz em si códigos urbanos
inconfundíveis, como os trajes, a melodia da fala, sua gíria, sua ginga ativada
pelo som eletrônico. Dois a dois, subiam ao palco os “concorrentes” conduzidos
por bits colocados aleatoriamente pelo DJ convidado. Trata-se de uma briga de
rima como fazem os repentistas de viola, cujo objetivo é desmoralizar o
adversário pela construção de versos tirados na hora. Confesso que fiquei
impressionado pela performance dos jovens ganhadores, que, além de demonstrarem
sua alta capacidade de improviso, souberam respeitar todos os perdedores na
queda de versos e rimas. Aliás, a troca de abraços entre os participantes deu
uma imensa sensação de orgulho pela manifestação de inteligência e ética
manifestadas naquele palco.
Dali
saí ainda mais convicto de que o hip hop tem em seu propósito o culto à
inteligência, à visão crítica e à formação de uma cultura de paz que possa
libertar o povo oprimido das grandes cidades. Quem não souber disso, que
procure aprender, derrubando a barreira do preconceito cultural que segrega
esses talentosos jovens cheios de alegria e poesia.
Parabéns
ao meu amigo Pertinaz pela brilhante condução do embate!!!
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