“O escritor que escreve às cegas pode
ser um iluminado”, acredita o poeta itabaianense André Ricardo Aguiar. E quem
lê às cegas, corre o risco de penetrar aleatoriamente no mistério das coisas
até, quem sabe, chegar a um grau de maravilhamento a ponto de viajar no pavão
misterioso sem maiores perplexidades.
O cordel é uma arte que tem receitas.
Sem o domínio de certas regras, não funciona. Como em toda forma artística, tem
muita empulhação e produto ordinário por aí, mas, na forma, precisa seguir os
preceitos da métrica e rima. É isso que o poeta Sander Lee vai ensinar hoje no
Sesc, em João Pessoa, na oficina de cordel. Eu estarei entre os aprendizes,
sendo que minha meta é aguçar a capacidade de ver mais o singelo e trivial com
algum encantamento. Cuido mais do conteúdo. Com alegria, vou desenvolver
oficina sobre literatura de cordel em novembro, no mesmo Sesc, convidado que
fui pela direção. Falarei sobre a caça ao tesouro no mundo da poesia popular,
como bom leitor cego que acho que sou.
Compadre meu revelou seu grande desejo
de fazer parte da Academia de Cordel do Vale do Paraíba. Mas ele não sabe
escrever cordel. Eis uma oportunidade de aprender e curtir essa belezinha que é
a poesia popular, aparentemente bem organizada e fechada em suas fórmulas, mas
com amplas possibilidades espreitando em seus recantos de graça, beleza e
inspiração. Não sei se o candidato a poeta vai aparecer na oficina de Sander
Lee, mas deveria. Rodeado de bons poetas e melhores leitores, quem sabe não se
manifeste na sua cabeça a compreensão das linhas imprecisas da trova e do verso
a serviço da originalidade e do belo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário