Reisado dos quilombolas de São Martins, no Piauí |
Sonhei
caminhando em verdes prados. Eu seguia por um campo de sonhos, boniteza de
flores, morros, árvores frondosas. Não era agreste nem sertão. Só que eu estava
perdido, quase nu, com frio e fome.
Cheguei
numa vila entre as serras, povo atrasado, casinhas de taipa, bonitinhas,
bem cuidadas. Gente na feira, acho que era. Um chafariz e uma discussão. O
responsável pelo chafariz ficou nervoso e começou a cuspir sem parar. Eu
continuava com frio, agora quase vestido, e cansado. Havia um fusquinha velho,
sem portas. Sentei no banco da frente. Cabeça pedindo sono, corpo pedindo pão.
Rumo ao nada, eu temia ter que dormir ao relento. Fui acordado pelo dono do
carrinho amarrando umas tralhas em cima do bicho. Saí procurando saídas.
Entrei
numa casa onde se brincava um teatro de bonecos de cordéis. Encantado fiquei
com a manipulação dos bonecos e a intervenção de atores humanos. Coisa mágica
mesmo. Os bonecos eram manejados por cordões no teto e no chão. Uma técnica que
eu desconheço. Mergulhei nessa ilusão, sonhando que sonhava dominando tão
singular capacidade de manipulação de fantoches.
Depois
saí caminhando pelas ruazinhas, enquanto caía a noite e a chuva. Parei para ver
um Reisado de crianças. Quando terminou a função, as pessoas fugiram com medo
de mim. Ficaram três velhinhas de olhos e cabelos azuis.
--- Que
cidade é esta? – perguntei.
--- É São
Martins, Estado da Bahia – respondeu a mais velha das anciãs.
E o sonho
ficou vazio. Antes, lembrei do meu compadre Zé Martins, eterno sindicalista de
Mari. Acordei agora a pouco, peguei o computador e fui ver: encontrei uma rua
São Martins em Feira de Santana, na Bahia, e em Natal, Rio Grande do Norte. Tem
um cemitério São Martins em Bagé, no Rio Grande do Sul. Outra Rua
São Martins
fica localizada no bairro Marapicu, na cidade de Nova Iguaçu. Uma comunidade
quilombola, na zona rural de Paulistana, no Piauí, também se chama São Martins.
Lá se brinca o Reisado, “com o envolvimento dos moradores da
comunidade e principalmente dos jovens quilombolas.” No sonho, as crianças do
reisado eram brancas.
No
Rio Grande do Norte tem a cidade serrana de Martins, “de belezas naturais ainda
conservadas”. Confere com o cenário do
sonho.
Enfim,
vou ficar
por aqui, desistindo de decifrar meu sonho. Só sei que vim de lá com essas impressões.
Sonho é bom por isso. Leva-nos a outras temporalidades e enigmas.
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