Café suspenso nasceu em Nápoles e se espalhou pela Europa. O que
vem a ser esse café suspenso? É uma ação de caridade baseada na confiança. O
sujeito entra num restaurante, pede dois cafés. Toma um e deixa outro pago para
algum morador de rua. O mendigo chega e pergunta: “Tem café suspenso?”
Também se encomenda um sanduíche, um almoço para quem não pode
pagar. Legal, não? No Brasil, o café suspenso certamente não pegaria. Problema
de má educação. Lance cultural, diriam. Nosso famoso “jeitinho brasileiro” logo
desmoralizaria o arranjo. Certamente teríamos mais demanda do que doadores para
o “café suspenso”. Isso se o dono do boteco não sonegasse a doação.
Casal paulista passou por João Pessoa e armou uma estante para
troca de livros. Você deixa um livro já lido e pega outro, sem burocracia, na
base da confiança. Os usuários, quando não deixam almanaques ultrapassados,
revistas da Avon ou livros sem valor algum, simplesmente não repõem o livro que
pegam.
Em Itabaiana, passei às mãos de mototaxista 200 convites para
serem distribuídos. Paguei adiantado. No dia do evento, não apareceu ninguém. O
cara “comeu” o dinheiro e não fez as entregas.
Neste momento da política nacional em que tudo está perplexo e
confuso, onde uma minoria clama a volta da ditadura para combater a corrupção,
como se o próprio regime de força não fosse imensa deturpação da probidade
social, é imperioso que cada um encomende seu “café suspenso” de cada dia e
passe a ver no outro, mesmo sendo adversário de ideias, um irmão necessitado de
acatamento e atenção. Sei que é complicado, mas, ao menos pequenos gestos
cotidianos de humanidade já seriam interessantes nessa rede de simpatia pelo
indivíduo. E sinceridade, um pouquinho de consciência, um tantinho assim de
retidão e decoro já seria um ótimo “café suspenso”.
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