“Já
ouviu a expressão ‘tempo é dinheiro’? Em um banco de Santa Maria da Feira, em
Portugal, ela é bem real. Porque ali, os voluntários não lidam com dinheiro, mas com tempo. Ao invés de lucros, o Banco do Tempo persegue
outro objetivo: a felicidade das pessoas.
Funciona assim: um eletricista se inscreve no Banco
do Tempo, se oferecendo para trocar as lâmpadas de uma casa. Após uma hora de
trabalho, ele tem direito a uma hora de um serviço qualquer que ele precise.
Por exemplo, aula de informática. O professor de informática, por sua vez, tem
direito a uma hora de massagem e por aí vai.
Há um pouco de tudo nesse projeto: troca de
lâmpadas, limpeza, cursos de idiomas, massagens, pessoas dispostas a passar
roupa e até a ensinar a andar de bicicleta.
Os bancos de tempo existem em Portugal há 13 anos,
e na pacata Santa Maria da Feira, chegou há um ano e meio. Quem levou para lá
foi a economista aposentada Margarida Portela, que destaca: — É o projeto da
minha vida! — resume.” (Texto de Clara Cla)
Gostei muito da ideia. Esse banco dá o que pensar.
Imaginemos o cidadão que não tem nenhum pendor, mas é
bom brasileiro e pai de dois filhos pequenos. Daí que chega no Banco do Tempo e
oferece seus préstimos para passar uma tarde/noite com alguma solteirona, viúva
ou desquitada carente, ocupando-se, entre outras tarefas correlatas, em ouvir
as queixas da desacompanhada senhora. Conversa vai, conversa vem, a suplicante
faz o que toda senhora saudável faria: resolve fechar as persianas para alterar
a luz ambiente e deixar de fora os olhares curiosos dos vizinhos.
Mas, a contrapartida? O cidadão quer apenas que a
madame fique com seus dois filhos por uma manhã enquanto ele procura emprego,
pai solteiro e desempregado que é.
Tempos ruins também podem ser depositados para escambo
nesse banco de tempo. O tonto Sonsinho quer duas horas de aula para que se
introduzam dois gramas de sabedoria no seu vácuo mental, o que seria inútil
perda de tempo, espécie de ficção. Em troca, ele promete explicar como funciona
seu CD para surdos e pessoas que não suportam barulho.
Para purgar seus pecados (que não são pequenos),
Madame Preciosa solicita dez minutos de revelações no confessionário. Em troca,
a grande dama do cabaré admitiria o necessitado vigário como contribuinte ativo
da caixa de auxílio mútuo que ela chama de xoxota, órgão reconhecido como de
utilidade pública pelo vereador Ameba.
Diligente e positivamente trabalhador, o ladrão comum
dá sua colaboração comunitária, prometendo não roubar ninguém durante seis
meses se aparecer um advogado distinto que o tire do xilindró.
O outro larápio, aquele que se sujeita à sua avaliação
pelo voto, troca mil sufrágios do mercado paralelo de candidato a vereador por
uma vaga no santinho do dito cujo e algumas palavrinhas nas reuniões
paroquiais. Essa gente honrada costuma cumprir o prometido, apesar do malévolo
espírito crítico dos seus eleitores. Ele só compra voto pelo real valor do
votante, de modo que não se pode botar toda culpa no empresário da democracia,
nem dizer que ele é o único ratoneiro nesse país de velhacos.
De minha parte, o que depositaria no Banco de Tempo?
Vou me oferecer para ensinar a viver na ociosidade, nova forma de vida
pós-industrial. Adestrar as pessoas para conduzir-se na sociedade de ideias, de
criatividade, sem pegar no pesado. Não sou vagabundo. Vadio é o senhor seu pai.
Sou um educador para o ócio. Em contrapartida, só quero que me deixem na rede
velha, vivendo quase anônimo e enforcado feito Judas sem culpa.
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