sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O palhaço que interrompeu Ariano Suassuna

Palhaço Dadá

“Nesses movimentos das frentes de direita e de algumas frentes de esquerda, virou costume uns se referirem aos outros como “palhaços” em tom de grave acusação, ou misturando-se a outros palavrões. Que bom seria que, além de tantas outras coisas, tirassem os palhaços “dessa história”... Uma das artes mais antigas, e feita por pessoas que merecem todo o nosso respeito! Quem dera boa parte de alguns desses idiotas fossem de fato palhaços! Deixem os palhaços fora disso!” - Valeska Asfora

Dadá Venceslau foi convidado pelo Governo do Estado da Paraíba para funcionar como mestre cerimônia de um evento no Teatro Santa Rosa, em João Pessoa, onde o escritor Ariano Suassuna daria uma de suas famosas aulas espetáculo. Dadá apareceu devidamente caracterizado como o palhaço Dadá. Suassuna começou a conversa e nesse papo lá iam duas horas de muita animação na plateia, mantida em estado de graça pela verve do folgazão das letras e dos cantos gerais do povo nordestino.

Impacientes, os organizadores chamaram Dadá no reservado e pediram:

--- Vá lá no mestre Ariano, leve mais água e aproveite para dizer que o tempo dele já acabou.

Assim fez Dadá Venceslau. Transmitiu o aviso ao pé do ouvido. O “homem espetáculo” não pensou duas vezes:

--- Digníssima plateia, esse palhaço ta pedindo para eu sustar a conversa. Eu atendo ou não ao palhaço?

A assistência foi ao delírio e o palhaço Dadá ficou procurando um buraco para se socar dentro. No final, o mestre revelou:

--- Gente, eu queria confessar uma coisa: meu sonho sempre foi ser palhaço. Supondo que essas risadas que vocês me ofereceram foram para minhas dissimuladas tiradas de bufão frustrado, quero dividir os aplausos com este palhaço mestre de cerimônia.

As palmas recrudesceram. O palhaço Dadá ganhou um forte abraço de Ariano Suassuna e saiu do teatro feito anjo habitante da parte do cosmos onde deus inventa prazer e júbilo.


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