Não fotografei você na
minha Rolleiflex
Não perdi um só segundo
Mapeando minha dor
Um terno e poético mundo
Que a natureza criou.
Revi toda Itabaiana
De norte a sul, leste, oeste,
Solvendo o que mais me ufana:
A beleza que a reveste.
Todinha fotografei
Do seu centro aos seus recantos
E as fotos que tirei
Eu as revelei em prantos.
Só uma não revelei
A sonhada e derradeira
A única que não tirei:
Minha velha gameleira.
E daí vem o conflito
Maior daquela omissão,
Onde o poeta, contrito,
Pede a sua remissão.
É que a sonhada figueira
Não quis posar para mim,
Ela que fora altaneira
Bela, frondosa, um jardim!
Desgastada pelo tempo,
Assim como os sonhos meus,
Inda teve o sentimento
De me sugerir: “adeus”.
De tal maneira orgulhosa
Como toda majestade,
A quaxinduva mimosa
Negou-me a intimidade.
Não quis o “flash” luzente,
Ser assim fotografada,
Pra não soar decadente
Quem já fora decantada.
Mostrava-se ali chorosa
Na reflexão dos idos.
Alta, incólume, grandiosa,
De bons tempos bem vividos.
De forma que quando eu
Minha máquina acionava,
O mundo ficava em breu
E a figueira se afastava.
Com insistência eu tentei
Poeticamente um valor,
Mas, por fim, eu me cansei
E a máquina se quebrou.
Então tive a consciência
Que a forma é um acidente,
Que, ocultando a essência,
É poética eternamente.
Eliel José Francisco
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