domingo, 30 de agosto de 2015

A GRANDE ALAGAMAR

Por Joacir Avelino 



                   A luta camponesa sempre teve grande repercussão no Estado da Paraíba, de forma pacífica ou violenta. Basta recordar as Ligas Camponesas, cujo ponto alto se deu no município de Sapé, onde ocorreram os maiores conflitos.
                   Em Salgado de São Félix e Itabaiana não foi diferente, só que de forma pacífica. Refiro-me aos incidentes envolvendo a fazenda Alagamar, encravada entre os dois municípios,  entre os anos de  1975 e 1983. Ali viviam famílias campesinas convivendo pacificamente em regime de agricultura familiar. Os trabalhadores mantinham a posse e uso da terra, outros eram foreiros ou rendeiros, mas em troca, numa relação entre capital e trabalho, ficavam obrigados a prestar jornadas de trabalho, gratuitamente ou a preços módicos ao proprietário legal.
                   Ocorre que no ano de 1975, o dono das terras, o solteirão Arnaldo Maroja vem a falecer. Aberto o processo de sucessão, os conflitos começaram a aparecer e se acirrar. De um lado os colonos e no outro polo os futuros herdeiros e pretensos senhorios, tendo a terra como pano de fundo.
                   Os novos donos, não satisfeitos com a presença dos antigos agricultores, resolveram expulsá-los. Como forma de intimidação, passaram a soltar gado ao longo da fazenda, para que destruísse as plantações. Outra tática empregada era a construção de cercas para separar as famílias ali residentes. Também usaram a polícia, travestida de capangas, como de forma de intimidar a todos, promovendo espancamentos e impondo a lei do silêncio, proibindo reuniões.
                   Os agricultores não cederam. Resolveram reagir de forma pacífica. Procuravam se reunir em pequenos grupos, derrubar cercas e expulsar o gado. Essa luta silenciosa chamou a atenção de membros da igreja católica, sindicalistas e simpatizantes, diante daquela falta de respeito aos direitos humanos daqueles trabalhadores, que buscavam o sagrado direito a um pedaço de terra, onde viviam, trabalhavam e produziam.
                   Quando a situação já estava insustentável, prestes a haver um derramamento de sangue, muitas autoridades ali se fizeram presentes, inclusive o general e presidente do Brasil João Figueiredo. Naquele mesmo dia, no ano de 1980, também lá se encontrava o nosso Luiz Gonzaga. Convidado a subir ao palanque presidencial, o rei do baião não fez desfeita, atendeu ao pedido, mas não permaneceu no meio das autoridades. Presenteou o ditador com um chapéu de couro, desceu do palanque e saiu cantando Asa Branca nos braços do povo.
                   Entretanto, a visita mais ilustre ao palco dos acontecimentos, foi a de D. Hélder Câmara. Em companhia dos bispos D. José Maria Pires  e D. Marcelo Pinto Carvalheira, ali se fez presente, antes do  Brasil Oficial,  não só como religioso, mas como um dos maiores defensores dos direitos humanos no Brasil naqueles anos de ditadura. Sob a batuta do arcebispo de  Olinda e Recife, os ministros religiosos enfrentaram a polícia, derrubaram cercas e expulsaram o gado. Em uma de suas falas chegou a clamar ao Criador: “O Senhor é o meu pastor e nada faltará, mas em Alagamar falta tudo”.
                   Para concluir, vale destacar a presença de Sivuca, não fisicamente, mas com sua música. É dele a melodia “Alagamar”, composta na década de 1980, hoje à disposição dos admiradores do bom forró, podendo ser acessada no “you tube”, mas carecendo de uma letra, cuja imaginação deixo a cargo dos poetas da minha terra.
                   

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