A luta camponesa sempre teve grande repercussão no
Estado da Paraíba, de forma pacífica ou violenta. Basta recordar as Ligas
Camponesas, cujo ponto alto se deu no município de Sapé, onde ocorreram os
maiores conflitos.
Em Salgado de São Félix e Itabaiana não foi
diferente, só que de forma pacífica. Refiro-me aos incidentes envolvendo a
fazenda Alagamar, encravada entre os dois municípios, entre os anos de 1975 e 1983. Ali viviam famílias campesinas
convivendo pacificamente em regime de agricultura familiar. Os trabalhadores
mantinham a posse e uso da terra, outros eram foreiros ou rendeiros, mas em
troca, numa relação entre capital e trabalho, ficavam obrigados a prestar
jornadas de trabalho, gratuitamente ou a preços módicos ao proprietário legal.
Ocorre que no ano de 1975, o dono das terras, o
solteirão Arnaldo Maroja vem a falecer. Aberto o processo de sucessão, os
conflitos começaram a aparecer e se acirrar. De um lado os colonos e no outro
polo os futuros herdeiros e pretensos senhorios, tendo a terra como pano de
fundo.
Os novos donos, não satisfeitos com a presença dos
antigos agricultores, resolveram expulsá-los. Como forma de intimidação,
passaram a soltar gado ao longo da fazenda, para que destruísse as plantações.
Outra tática empregada era a construção de cercas para separar as famílias ali
residentes. Também usaram a polícia, travestida de capangas, como de forma de
intimidar a todos, promovendo espancamentos e impondo a lei do silêncio,
proibindo reuniões.
Os agricultores não cederam. Resolveram reagir de
forma pacífica. Procuravam se reunir em pequenos grupos, derrubar cercas e
expulsar o gado. Essa luta silenciosa chamou a atenção de membros da igreja
católica, sindicalistas e simpatizantes, diante daquela falta de respeito aos
direitos humanos daqueles trabalhadores, que buscavam o sagrado direito a um
pedaço de terra, onde viviam, trabalhavam e produziam.
Quando a situação já estava insustentável, prestes
a haver um derramamento de sangue, muitas autoridades ali se fizeram presentes,
inclusive o general e presidente do Brasil João Figueiredo. Naquele mesmo dia,
no ano de 1980, também lá se encontrava o nosso Luiz Gonzaga. Convidado a subir
ao palanque presidencial, o rei do baião não fez desfeita, atendeu ao pedido,
mas não permaneceu no meio das autoridades. Presenteou o ditador com um chapéu
de couro, desceu do palanque e saiu cantando Asa Branca nos braços do povo.
Entretanto, a visita mais ilustre ao palco dos
acontecimentos, foi a de D. Hélder Câmara. Em companhia dos bispos D. José
Maria Pires e D. Marcelo Pinto
Carvalheira, ali se fez presente, antes do
Brasil Oficial, não só como
religioso, mas como um dos maiores defensores dos direitos humanos no Brasil
naqueles anos de ditadura. Sob a batuta do arcebispo de Olinda e Recife, os ministros religiosos
enfrentaram a polícia, derrubaram cercas e expulsaram o gado. Em uma de suas
falas chegou a clamar ao Criador: “O Senhor é o meu pastor e nada faltará, mas
em Alagamar falta tudo”.
Para concluir, vale destacar a presença de Sivuca,
não fisicamente, mas com sua música. É dele a melodia “Alagamar”, composta na
década de 1980, hoje à disposição dos admiradores do bom forró, podendo ser
acessada no “you tube”, mas carecendo de uma letra, cuja imaginação deixo a
cargo dos poetas da minha terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário