Guilherme Figueiredo
demonstra no Tratado Geral dos Chatos: 'A humanidade está chata, o Brasil está
chato, a chatura cresce a olhos vistos e se espalha sobre nós. Não liquidaremos
com a chatura, mas aprendamos a conhecê-la em todas as suas múltiplas facetas,
pois assim estabeleceremos as regras de convivência suportável que nos
reconduzem à proposição inicial: 'O chato não se chateia'.
“Não quero chato com papo
chato em ambiente chato nas horas chatas” (Clarissa Correia)
O chato mala sem alça ri da
própria piada sem graça. Se você perguntar como ele vai, o chato passa a contar
toda sua vida miserável. No ônibus, fica assoviando. Na rua, cantarola enquanto
ouve walkman. Fala aos berros no celular, em público. Convida-se pra ir na tua
casa filar a merenda e, se brincar, fica pra dormir.
Eu mesmo sou muito chato
porque acho que quase todas as pessoas são chatas. Esse modo de julgar deve ser
reflexo de minha própria chatice. Tem coisa mais pedante do que um chato no
velório? No meu enterro, vai ser assim: morreu, chorou, enterrou. Não vou
querer velório pra não ter que aturar chato contando piadinha sem graça,
fingindo sentir muito, filando meu café com bolacha e queijo. Chato fora.
Velório já é uma coisa muito chata, e com chato profissional, é pro sujeito morrer
novamente, de raiva. Vou contratar um grupo de gaiatos pra vaiar o sujeito
hipócrita que afirmar, no meu velório: “era uma pessoa maravilhosa.”
Encontrei um chato num dia
chato ouvindo dupla sertaneja, que por sua vez é o tipo de música mais chata do
planeta. Existem dois tipos de pessoas chatas no mundo: os chatos propriamente
ditos e esse cara. Não tem o chato de
galocha? Aliás, por que os chatos insistem em usar galocha, um calçado
totalmente ultrapassado? Claro, porque são chatos. Os chatos geralmente são demodê. Ser chato sempre foi cafona. O
comportamento socialmente desagradável é típico dos caras resistentes, como
esse calçado muito usado nos dias de chuva, nas décadas 60/70. O chato é
eterno. Muitas vezes, o chato entrava na casa das pessoas de galochas, molhando
e sujando toda a casa do anfitrião, que com certeza ficava desagradado com tal
demonstração de desconsideração. Nos dias de hoje, os chatos de galochas não
estão necessariamente calçados com galochas, mas a expressão continua sendo usada
para descrever pessoas com atitudes desagradáveis, disse-me alguém entendido no
assunto, por sinal um sujeito muito do chato.
Não por acaso, botaram o nome
de “chato”, num piolho incômodo e inoportuno que gosta de se reproduzir no
púbis de chatos ou não.
Chatice também é cultura: Em
inglês, uma pessoa chata é classificada como boring ou annoying. Tudo
isso eu sei porque sou um chato de Facebook, o paraíso dos chatos. A blogueira
carioca Fernandinha, que deve ser um pé no saco, mandou ver:
“Impressionante como existe
gente chata no mundo. E o facebook só potencializou o poder de chatice dessas
malas. O que leva alguém a postar "Bom dia sexta-feira!"? Tudo bem
que sexta-feira realmente é um dia muito legal, mas o que passa pela cabeça
dessa pessoa? Será que ela acha que ninguém ali sabe que é sexta-feira e quer
dar a notícia em primeira mão? Ou é só uma forma super original de dizer para o
mundo o quanto ela gosta desse dia? Nossa, que informação relevante!
E aquele cara que posta foto
do prato de comida que vai almoçar, do trânsito em que se encontra, do pé
machucado, da praia no domingo? Quem quer saber disso, Jesus? Não passa de um
registro do quão mala esse ser é.”
Ela sai reclamando dos chatos
que ficam invadindo seu mural para publicar troços esquizofrênicos, fotos de
gatos cagando, trocadilhos infames e mensagens babacas. Fora os evangélicos
febris e os católicos imbecis. No fim, ela detona: “Não estou de TPM, mas o
facebook só confirmou aquela velha teoria: as únicas coisas que nunca vão acabar
é flamenguista e gente chata. Exceções à parte, isso é até uma redundância.”
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