Papo
absurdo em mesa de bar. Quatro cavalheiros, quatro jogadores, quatro cabras de
peia como diz a canção rasga mortalha de Cátia de França. Quatro homens feitos,
nem tão feitos assim, falta cabeça, tutano, juízo pra se firmar na vida como se
deve. Sem dizer, nem sonhar besteiras. Os quatro, aliás, orbitando entre os
planetas Quimera e Utopia, num mundo de alheamento, fora das motivações mais
palpáveis, prosaicas. O que faz esse grupo de amigos um coletivo especial é sua
invejável incompetência de realizar o mais simples dos atos para a construção
de um projeto, administrar as coisas, construir um mínimo de organização
racional. “Vai na raça e na improvisação”, é o lema.
Pois sim.
Dois desses cavalheiros são representantes do negativismo puro e simples. Não
vai dar certo, não vai dar praia, não chegaremos lá, não vem que não tem, não
atravessaremos o Rabicó. Para equilibrar, tem os dois que são da turma dos
otimistas absurdos. Acreditam que podem até converter o Papa ao protestantismo,
quanto mais fazer a humanidade acreditar e apoiar seus projetos eminentemente
fora do contexto comercial, político, social e etcetera e tal. O grande
mistério: por que os pessimistas continuam sentando na mesa dos otimistas e
fazendo parte dos tais projetos? Uma forma de ter com quem discutir suas
teorias sobre como detectar ideias fora do lugar e exageradas. Ou prazer mesmo
de ser do contra. Ou amizade pura e simples, que amigo não se encontra mais em
qualquer mesa de bar como nos velhos tempos.
Ao som de
hits musicais dos anos 70, o pessimista mais velho debocha dos
otimistas, pelo simples fato de que já conhece de cor e salteado o nível de
irresponsabilidade da turma. O segundo pessimista tenta teorizar sobre as
razões pelas quais o projeto irremediavelmente dará com os burros n’água,
invocando sua condição de “sabe tudo”, daqueles chatos de galocha que te
interrompem para dizer que estás redondamente enganado naquilo que nem
começastes direito a explicar. Devidamente mandado para a “tonga da milonga do
cabuletê” (antigo palavreado nagô que quer dizer exatamente o que você está
imaginando), o segundo pessimista, muito cerimonioso, pede encarecidamente que
os demais sentem na manjuba do jerico Barnabé.
Essa
briga é antiga e termina com cada um indo cuidar de sua vida, depois de pagar a
conta do bar. Antes, o primeiro otimista larga a última provocação: “Deus criou
o mundo e descansou. Depois, criou o chato e nunca mais teve sossego”. Sim, e o
projeto, motivo da zoada, será devidamente esquecido com os primeiros sintomas
da ressaca.
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