Eu gosto de escrever o texto à mão. Escrevo rápido as ideias
principais e reescrevo. Depois digito no computador.
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É
terapêutico escrever abobrinhas diariamente ao nascer do sol, neste espaço
cibernético. Queria ter a mesma assiduidade com as coisas práticas do
dia-a-dia. Sou o rei da procrastinação. “Não deixe para amanhã o que pode ser
feito depois de amanhã”. Tarefas que a gente vai encostando, perdendo tempo com
bobagens tipo Facebook, Twitter, Gmail, bar de Zé. Enquanto isso, a pia cheia
de louça suja, a agenda repleta de compromissos inadiáveis que vão sendo
adiados, os livros a serem lidos, os projetos para sonhar, o cachorro pra
vacinar.
Tenho o
questionável hábito de levar a vida sem referências concretas. Um dia quero uma
coisa, no outro isolo o foco em determinado objetivo, vou perambulando pelos
alvos sem me concentrar em nada especificamente. Um beija-flor ingênuo que nem
percebo que os tempos são outros, que o tempo propriamente dito vai acabando
para mim e nada de abandonar aquele olhar descomprometido sobre a vida.
Com mais de
dez anos de ócio de aposentado, o trabalho me convoca todos os dias, estou
sempre atrasado, com muito tempo para sonhar e criar que fico assim como
mosquito em campo de nudismo, sem saber onde pousar. Gosto de pensar que todo
dia reinvento a vida. Ela, a vida, me quer frenético, eu fico só dando pistas
falsas, prometendo sem cumprir. De vez em quando me aventuro nos espaços
simbólicos e sombrios, dando lugar para o que não tem lugar, exercitando meus
mistérios. Isto não está na agenda. Isto é poesia.
“O tempo,
esse ‘chronos’ devorador voraz dos próprios filhos, na sua obsessão pelo
poder”, na visão de Luiz Henrique Pellanda, escritor curitibano. Esse danado é
que é o supra sumo da verdade, embora abstrato, que para contá-lo somos
obrigados a mentir. Mentimos sobre nossa verdadeira idade cronológica, sobre
nossas espectativas. Já reparou como a gente se recusa a seguir
adiante? Talvez por isso, para adiar o tempo que nos resta, protelamos as
coisas. Vai que a morte tenha a relação de tarefas que devemos realizar antes
de partir. Tenho pra mim que só estarei preparado para o andar de cima quando deixar
de olhar a vida e o mundo como criança, com a curiosidade e o encanto da
primeira vez. E sempre tem novas paisagens pra se ver amanhã.
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